segunda-feira, novembro 02, 2009

Trovas



“Quem, neste mundo, amou de mais, terá, no outro, cuidados dobrados”.
Será assim?
Era uma noite d’inverno,
do céu a chuva caía,
sibilos da ventania
lembravam gritos d’inferno.
Os males do coração
torturavam minha vida.
Tinha a mente adormecida
ou todo o “eu” em acção?

Ignoram o que aconteceu:
às cavernas fui parar,
Cérbero pôs-se a ladrar,
por sorte a mim não mordeu.
Não ouvi aves canoras,
porém, brados de serpentes;
ouvi choros de inocentes
por suas progenitoras.

Adormecido no antro
o monstro de três goelas,
transpus às apalpadelas
um rio e ouvi longo pranto.
Em vez de rósea manhã
o fogo rompia o escuro;
de enxofre havia um monturo,
donde reinava Satâ.

O que mais me comoveu?
As almas sempre a berrar,
o sofrimento a aumentar
e o fogo nunca cedeu.
Embora atemorizado,
mas num acto de coragem
usei desta linguagem:
porquê tanto condenado?
(Continua)

Agostinho Alves Fardilha(o meu pai)
Coimbra

Foto:iupui.edu

8 comentários:

Adelaide Mesquita disse...

Olá Ellisa, o seu Pai é um verdadeiro
POETA! Prabéns para ele e para si que divulga.
Beijinhos e bom dia

Paula Raposo disse...

Gosto muito de ler estas trovas do teu Pai! Beijos para ambos.

Lilá(s) disse...

Estou a adorar as poesias do teu pai, é lindo! dá-lhe um beijinho meu.
Bjs

Anónimo disse...

Bela e bem estruturada trova.

Espero pelo final.

Anónimo disse...

Mais um poema de alto valor linguístico!
Na verdade quem sabe , sabe.
E diz o poeta Agostinho Fardilha:
Embora atemorizado,
mas num acto de coragem
usei desta linguagem:
porquê tanto condenado?

Não há dúvida que temos de ser muito corajosos perante tanta alma sofrida.
E quando o sofrimento aumenta de dia para dia; e quando o sofrimento
é galopante; e quando o sofrimento
permanece em longa estadia...???
meu bom Jesus eu vos imploro que cesseis essa dor, pois dói tanto ver sofrer!
Hoje dia dos Fiéis Defuntos, recordamos todos os nossos ente queridos e amigos que já partiram .
Assim nos enfrentamos perante o mistério da morte, que não é o fim
mas o início de outra vida.
A morte é uma mudança de vestimenta(Vitor Hugo).
Amo a morte porque ela me devolve a vida (Carlos Carreto )
Na verdade quem não se comove perante o sofrimento???
Mas quantos abraçaram o sofrimento como o seu melhor amigo e transformaram o sofrimento numa verdadeira alegria???
Não se consideraram "condenados "
mas Bem Aventurados.
Sentir os nossos mortos vivos dentro de nós e tendo com eles uma relação de afecto é uma alegria imensa.
Partilho esta alegria que sinto dum ente mui mui querido que já partiu mas está vivo dentro de mim.
Sejamos corajosos e enfrentemos a morte não como o fim de tudo ,mas o começo de outra vida.
Muitos parabéns Sr. Dr. Agostinho.
Beijinhos Elisa que és uma sortuda pelo pai que tens!!!

Mena disse...

Olá!
Parabéns ao pai brilhante que tens!
Fico à espera da continuação...
Bj
Mena

Nilson Barcelli disse...

Adoro ler os poemas do teu pai.
Pelos conteúdos e pela forma como os aborda, o teu pai só pode ser um homem bom. E há poucos...
Querida amiga, desejo-te uma óptima semana.
Beijos.

~*Rebeca*~ disse...

Ô orgulho ser filha de um homem que sabe usar as letras a favor de um talento.

Ah Elisa, tudo o que vem de ti é belo.

Beijo imenso, menina linda.

Rebeca

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