Fernando Namora, escritor, poeta, médico, morreu há 20 anos a 31 de Janeiro de 1989.
Estreou-se com “Relevos” (1938), livro de poesia.
Será homenageado, hoje, no auditório da Ordem dos Médicos, em Lisboa, onde serão lidos textos da sua obra “Retalhos da Vida de um Médico”.
Amanhã, será exibido no cinema S. Jorge o filme baseado na sua obra “Domingo à Tarde”, realizado por António Macedo.
Poema de Amor
Se te pedirem, amor, se te pedirem
que contes a velha história
da nau que partiu
e se perdeu,
não contes, amor, não contes
que o mar és tu
e a nau sou eu.
E se pedirem, amor, e se pedirem
que contes a velha fábula
do lobo que matou o cordeiro
e lhe roeu as entranhas,
não contes, amor, não contes
que o lobo é a minha carne
e o cordeiro a minha estrela
que sempre tu conheceste
e te guiou — mal ou bem.
Depois, sabes, estou enjoado
desta farsa.
Histórias, fábulas, amores
tudo me corre os ouvidos
a fugir.
Sou o guerreiro sem forças
para erguer a sua espada ,
sou o piloto do barco
que a tempestade afundou.
Não contes, amor, não contes
que eu tenho a alma sem luz.
...Quero-me só, a sofrer e arrastar
a minha cruz.
Fernando Namora, in”Relevos” (1938)