domingo, dezembro 20, 2009

Auto “um Presente divino”



Com o Auto “Um Presente Divino”, pretendemos imitar, modestamente, Gil Vicente, “único génio verdadeiramente dramático que Portugal teve”; “é o artista e escritor que dá a nota mais pessoal na literatura portuguesa”.


Deus


Mãos à obra: vou criar Céu e terra.
Tudo estará bem feito? Não e não!
Falta a arte que o Meu Amor encerra:
o homem, a quem darei o nome de Adão.
Irá habitar formoso jardim
com cheirosas flores e boa fruta.
Reservarei somente para mim
a árvore, no meio, impoluta.
É a árvore do conhecimento
do bem e do mal. Dela fugirás.
Mas Iavé, estando sempre atento,
queria vê-lo contente e em paz.
Da sua costela fez a mulher.
Olhou, sorriu e mostrou-se feliz.
O nome de Eva, se a ambos aprouver,
será e também do Mundo a raiz.



Serpente (Satanás), Eva e Adão

Bom dia. Como és formosa!
Queres maçã saborosa?
Aquelas, ali, são especiais.
Dessas não posso comer.
Tretas! ficareis, p’ra sempre, imortais.
Prova e o teu poder
oh! será imenso.
Comeu e ficou nua.
Ouviu-se da serpente a gargalhada.
Dele foi-se o senso
e a vergonha acentua;
tremendo, espera de Deus a chamada.



Deus, Adão, Eva e Serpente


Onde estás, ó Adão?
Estou de roupa vão.
Tenho vergonha de Ti.
Que fizeste, desgraçado?
Aquela maçã comi.
Por Eva fui enganado.
Ela acusa a serpente
de tanta maldade.
A ira de Deus sobre eles caiu:
vida dura presente
na Humanidade;
a serpente de peçonha feriu.



Deus, Pecado Original e a Virgem Maria


O homem a Deus desobedeceu.
Primeiro pecado ele cometeu.
É o pecado original.
Mas Iavé do homem teve dó
e logo esqueceu todo o mal.
E para que não ficasse só,
prometeu enviar o Messias Redentor,
que da “nova Eva”, chamada Maria,
de toda a mancha isenta por Deus,
cooperando o Santo Espírito Criador,
o Deus-Menino um dia nasceria,
cumprindo-se a promessa aos hebreus.




O Anjo S.Gabriel, a Virgem Maria e S.José



Salve, ó Maria, ó cheia de Graça,
diz Anjo à Virgem, judia de raça.
Alegra-Te, o Senhor Contigo está.
Maria, corando, perturbou-se:
nunca tinha ouvido esse dito cá.
Mas o Anjo logo adiantou-se:
não temas, Maria, vais ter um Filho;
O Pai será o Espírito Santo.
Dar-Lhe-ás o nome de Jesus.
Terra e Céu render-se-ão ao Seu brilho.
E tu, José, entoa a Deus um canto,
porque sob a tua guarda O pus.




Em Belém terminou a gravidez.
Maria, algures não teremos vez.
Entremos nesta gruta, diz José.
Vê, há manjedoura com palha.
Jesus nasceu. Sorriu. Os três, com fé,
louvam Deus-Pai, que logo atalha:
Maria e José, a Vós o Senhor
Seu Filho confia, enchei-O de amor.




Perto, nos montes, uns pastores
até da manhã aos alvores
vigiavam seus rebanhos.
Do Céu surge um exército de Anjos,
enchendo os ares de hinos tamanhos
com seus belos e afinados banjos.
Ide, correi depressa a Belém.
Nasceu Jesus para vosso bem.
Correram e encontraram o Deus- Menino.
Adorando, cantaram ao pequenino:



 

Cantiga paralelística
Com refrão


Refrão

 

(Abriu-se o Céu e a Corte sorriu lá,
porque o Deus-Menino veio morar cá).



I


Deus visitou a Terra. Noite feliz!
O homem pecou, mas Deus é brando Juiz.
(abriu-se o Céu e a Corte sorriu lá,
porque o Deus –Menino veio morar cá).
Enviou Seu Filho para nos salvar
e das trevas eternas nos resgastar.
(Abriu-se o Céu e a Corte sorriu lá,
porque o Deus- Menino veio morar cá).



II


O homem pecou, mas Deus é brando Juiz.
Sua Morada vai ser nosso país.
(Abriu-se o Céu e a Corte sorriu lá,
porque o Deus-Menino veio morar cá).
E das trevas eternas nos resgatar
prometeu. Ora, alegres, vamos cantar.
(Abriu-se o Céu e a Corte sorriu lá,
porque o Deus-Menino veio morar cá).



III



Sua Morada vai ser nosso país.
Olhai p’r’Ele. Seu Amor sempre nos quis.
(Abriu-se o Céu e a Corte sorriu lá,
porque o Deus-Menino veio morar cá).
Prometeu e, alegres, vamos cantar:
Deus é bom e nunca soube castigar.
(Abriu-se o Céu e a Corte sorriu lá,
porque o Deus-Menino veio morar cá).



IV





Olhai p’r’Ele. Seu Amor sempre nos quis.
Veio o Filho e ninguém será infeliz.
(Abriu-se o Céu e a Corte sorriu lá,
porque o Deus-Menino veio morar cá).
Deus é bom e nunca soube castigar:
Que Deus é este para só perdoar?
(Abriu-se o Céu e a Corte sorriu lá,
porque o Deus-Menino veio morar cá).




Vilancete


Mote

Cantai, ó Anjos, um hino,
louvai todos o Deus-Menino


Noite fria em Belém,
era noite de Natal.
Jesus, para nosso bem,
a nós se tornou igual.
E foi cumprida, afinal,
promessa do Pai Divino,
enviando o Deus-Menino.


Loas
(à Virgem Maria)






Maria, és a Aurora que anunciou
a vinda do Senhor.
És a Lua, que sempre nos guiou
até ao Céu nos pôr.
És o Sol, que de Deus recebe a Luz
e ao Filho nos conduz.





Agostinho Alves Fardilha (o meu pai)
Coimbra



Foto:internet


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