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sábado, setembro 16, 2017

Cataventos, um património esquecido






O GALO, SIMBOLISMO DO PODER


O catavento mais comum é, sem dúvida, o galo. O  simbolismo do galo atravessa as várias
épocas históricas e as religiões mais representativas, com algumas formas diferenciadas mas
mantendo sempre ligações profundas ao culto solar.
No livro de Job, na Bíblia; aparece como símbolo da inteligência directamente emanada de Deus,
com poderes de previsão do nascimento do dia e Maomé proíbe a maldição do galo por este, ao
anunciar o dia, convidar à oração.

O aparecimento do galo sobre os pináculos das catedrais parece remontar a finais do primeiro
milénio, quando uma bula papal determinou a sua utilização. Desde cedo que foi adoptado pelo
cristianismo emergente como símbolo de vigilância, chamando os fiéis à oração, para que dessem
graças a Deus pelo novo dia.

Também Cristo, segundo os Evangelhos, previu a tripla negação de Pedro antes que ele cantasse.
Depois do canto, o arrependimento, aparecendo o galo como mensageiro da vitória contra o mal e a
mentira. Desde o início do cristianismo que esta ave serve de símbolo: aparece representada nas
campas das catacumbas, é mencionada em algumas práticas litúrgicas, nomeadamente orações do
início do dia, onde os primeiros versículos fazem a sua invocação. Na primeira divisão legal do dia, a
hora inicial era a do canto do galo, por isso chamada de gallicinium. Melhor não havia para, do ponto
mais alto da urbe, afirmar o poder da igreja.

Há no entanto quem defenda, com base em crónicas bizantinas, que a presença do galo nos zimbórios se deve a ordens dadas por Khosroer II (sec. VI), rei poderoso do Império Sassânida que, nas suas conquistas de lugares sagrados, mandou substituir a simbologia cristã pelo se emblema pessoal, o galo dourado.
É de admitir que, inicialmente, e ao contrário das bandeiras metálicas, o galo não tivesse o movimento de rotação que é essencial para ser tido como catavento. Seria um simples ornamento de carácter religioso e cumpriria apenas as suas funções de arauto da fé, apelando à oração. E teria mesmo outras utilizações: a reparação recente do galo de Notre-Dame de Paris levou à descoberta, no seu interior, de ossadas humanas. À falta de melhor explicação crê-se que se tratam de relíquias, ossos de santos locais. Talvez um modo de asproteger.



O galo aparece como símbolo do poder eclesiástico mas igualmente do poder temporal. Na célebre
tapeçaria de Bayeux, dos inícios do século XI, descrevem-se os antecedentes e a própria Batalha de
Hastings, em que Guilherme II, Duque da Normandia, derrota o rei anglo-saxão Harold II. Quase no
início dessa extensa tapeçaria está retratada a morte do rei Eduardo, o Confessor, que deu origem ao
conflito, e o funeral do mesmo para a abadia. Sobre esse templo aparece um soldado agarrando um
galo de catavento. Várias interpretações são possíveis para este acto mas, quer seja o apear do galo
como afirmação de derrota dos anglo-saxões, quer seja o acto de o colocar no pináculo da recém-
-construída catedral, torna-se evidente a sua qualidade como símbolo do poder, seja ele eclesiástico
ou temporal.




Aparentemente foi na passagem do românico para o gótico que o galo deixou de ser considerado
como elemento essencial para a afirmação do poder eclesiástico, símbolo da vigilância de Deus (e da
igreja) sobre o povo. Teriam então começado a diversificar-se as simbologias, aparecendo as mais
diversas representações do religioso, anjos diversos e alguns motivos inspirados no bestiário da
Baixa Idade Média. Mas o que mais se terá multiplicado foram as bandeiras, muitas com formato de
seta ou espada.

Para mais informação sobre os cataventos leia aqui

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