segunda-feira, março 23, 2009

CANTIGA DE AMIGO


Cantiga de mestria
pastorela
(de 7 sílabas, segundo o esquema a b b a a c a c )


Pelos campos da Lousã
a pastora bem talhada
velava pela manada
desde o romper da manhã.
De donzela mui louçã,
de rosto tão formosinho,
se tornou em coisa vã,
qual ave sem ter um ninho.

Desmaiou, caindo na erva.
Assim esteve e sonhou
que o seu amigo tardou
ao perseguir uma cerva.
Co’ele trazia outra serva
e os dois foram à ermida,
que fica ao longe, na serra,
pedir a Deus longa vida.

A pastora, olhando o amigo,
fala-lhe que é um malvado,
que é um falso namorado.
Ó flores do monte, eu vos digo:
nesta coita não consigo
amar outro entendedor;
era mais um inimigo
a zombar do meu amor.

Mas a pastora os sentidos
recobrou. Porém os olhos,
fixos e peados de antolhos,
de tanto olhar são feridos.
Como o melhor dos maridos,
fala que está ali agora
e, segredando aos ouvidos,
diz não haver mais demora.

Agostinho Alves Fardilha ( o meu pai)
Coimbra

talhada= formosa, bela, de corpo delgado
entendedor=namorado

13 comentários:

Anónimo disse...

Belo jardim, com mutas flores e cores.
A foto tá linda!
Li o texto que escrevete, uma verdadeira saudação a estação, mais colorida e perfumada do planeta terra.
Obrigada pelos elogios.
Beijos, muita paz, saúde e boa
semana.
Lia Regina.

Anónimo disse...

Correcta cantiga de mestria, característica dos trovadores galego-portugueses, caracterizada pela ausência de refrão.

Parabéns.

Anónimo disse...

Bela cantiga trovadoresca de origem provençal, correctamente elaborada, segundo o esquema escolhido.

~*Rebeca*~ disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
~*Rebeca*~ disse...

Mas chega uma hora que a ansiedade e a saudade vira tortura mesmo, mas na hora do encontro a festa acontece.

Esse tipo de trova me lembra meus anos de colégio. Que bom que alguém ainda os faz com tamanha perfeição e ritmo, como da época.

Até a próxima.

Jota Cê

-

Zé Al disse...

Agostinho Alves Fardilha merece os meus humildes parabéns e desejo sinceramente que publique um livro com os seus poemas que de certeza já são muitos.Tanta gente a publicar livros que não interessam a ninguém e quem tem um dom destes não o deve guardar para si mas para todos nós que gostamos de poesia!

Nilson Barcelli disse...

Lisa, o teu pai escrevia tão bem (não ser se ainda escreve).
O poema é magnífico, extremamente bem elaborado. Aprecio este género e gostei mesmo muito.
Boa semana.
Beijo.

~*Rebeca*~ disse...

Oi Elisa, eliminei porque estou num note pequeno e no momento que respondi, estava no aeroporto de volta pra casa e não vi. Quando cheguei em casa, fui olhar novamente e só estava o meu nome e o do Jota Cê e não visualizava o que havia escrito. Como estava morta de cansada e acordei agora, entrei no meu outro computador e pude ver o comentário que o Jota Cê deixou. Pelo que pude perceber, é o meu note que está com defeito na parte de visualização.

Desde já, peço perdão, mas erros técnicos existem.

=/

Rebeca

-

mfc disse...

Que trabalho para a construção desta Cantiga de Amigo!
O respeito pela métrica e pela imagiologia do tempo lá está.
Parabéns ao teu Pai e um beijo para ti.

~*Rebeca*~ disse...

Elisa,

Eu que peço perdão por tudo. Sei o qto comentários de pessoas que nos conquistam fazem a diferença e você é uma. Sempre um amor, sempre atenciosa, sempre ali pronta pra se emocionar com o que escrevemos e contamos.

O que seu pai escreveu é de uma grandeza incrível. Não escrevemos mais como antigamente, mas mesmo assim, fazem parte das palavras que se eternizam.

Parabéns para o seu pai!

=]

Adoro seu carinho!

Rebeca

-

~*Rebeca*~ disse...

Elisa, tem selo no blog pra você..

Espero que goste, querida.

=]

Beijo.

Rebeca

-

xinoca disse...

Adorei mais esta cantiga de amigo. É linda é mesmo o género do meu Pai. Já lhe pedi para ele publicar um livro com os poemas que ele tanto gosta e sabe fazer...... pode ser que ainda seja eu a tomar essa iniciativa......

Persida Silva disse...

Gostei imenso pois que fala de cantiga...os textos e o quadro vão juntos parece que forão feitos um para o outro sem distinção...gostei mesmo.
Abraços
Persida Silva

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