segunda-feira, maio 25, 2009

Cantiga Romanceada


Poesia Religiosa
Rainha Santa Isabel
“Milagre das rosas”


De Isabel de Aragão ouso falar,
misturando a verdade com a lenda.
De Navarra também veio esta prenda.
Seu avô, D. Jaime, ao dela falar,
Isabel, Rainha de Portugal,
em caridade só Deus foi rival.

“a rosa de Aragão” chamar-lhe quis.
Com El-Rei D. Dinis fez casamento
e, colaborando no incremento
do reino, o marido disse: eu quis
Isabel, Rainha de Portugal,
em caridade só Deus foi rival.

que ora fossem aumentados os seus bens.
Com mais rendas surgem albergarias,
conventos e aos pobres...melhorias.
Paz familiar conseguida a bem,
Isabel, Rainha de Portugal,
e em caridade só Deus foi rival.

espalhou a harmonia e o amor
aos carenciados de toda a sorte.
Já Deus a distinguiu antes da morte,
fazendo milagres. Sem desamor,
Isabel, Rainha de Portugal,
em caridade só Deus foi rival.

vendo-a ao povoléu abençoar,
que, rindo, recebia algum pataco,
o Rei inquiriu: porquê tal recato?
Senhor, só o bom povo abençoei,
Isabel, Rainha de Portugal,
em caridade só Deus foi rival.

pois deram-me flores de bom cheirar.
Logo ela abriu o seu casto regaço
e das muitas moedas todo o espaço
lugar deu a rosas p’r Ele cheirar,
Isabel, Rainha de Portugal,
em caridade só Deus foi rival.

serenando a inquietação real.
Mas uma vez mais El-Rei, encontrando
fora D.Isabel e perguntando
o que ia no regaço de real,
Isabel, Rainha de Portugal.
em caridade só Deus foi rival.

se seriam esmolas feitas de pão…
Respondei, minha Esposa e Rainha,
e dizei o que escondeis tão azinha.
Sorri, mas, acariciando os pães,
Isabel, Rainha de Portugal,
em caridade só Deus foi rival.

responde:meu Marido e meu Senhor,
não sentis o fino odor destas rosas
que aqui trago e que são das mais formosas?
Desdobra o regaço e aos pés da Senhor
Isabel, Rainha de Portugal,
em caridade só Deus foi rival.

caem lindas flores. D.Isabel,
morto D. Dinis, tornou-se clarissa.
Foi Rainha da Paz e da Justiça.
Jaz em Coimbra, seu leal donzel.

O Anjo da Paz foi D. Isabel.
A todos fez bem, a ninguém quis mal.




Coimbra, 25 de Maio de 2009
Agostinho Alves Fardilha (o meu pai)


Vocabulário:
Senhor(substantivo uniforme)=amo, patrão, dona, senhora;

Estrutura da poesia:
cantiga (romanceada), de refrão, atafinda, mozdobre(ou mordobre) e finda, em estrofes de quatro versos decassilábicos(agudos e graves). Rima interpolada(nas estrofes).

Esquema: a b b a C C A c

Esclarecimento:
A rainha D. Isabel de Aragão era filha de D. Pedro III de Aragão e de D. Constança, de Navarra. Era seu avô D. Jaime I, o “Conquistador”.

Imagem:internet


8 comentários:

mfc disse...

Vejo em ti um orgulho enorme em publicares estes poemas do teu Pai.
Ele respeita de uma forma linda o formalismo a que se obriga.
Gostei muito e faz-me o favor de lhe dizeres isso mesmo.

António Faria disse...

Correcta cantiga romanceada, de refrão, abordando o tema "Milagre das Rosas", onde se expressa a reliosidade através da palavra "Deus".

Esquema correcto".
Parabéns.

Anónimo disse...

Bela e díficil cantiga medieval, romanceada ,que marca o tipo de cultura da época.

P.S. O esquema foi rigorosamente deguido.

Ana Zuzarte disse...

Que lindo
Bjs e boa semana
Ana

Nilson Barcelli disse...

Magnífico querida amiga. O teu pai é um Poeta.
Boa semana.
Beijo.

Mena disse...

Olá!
Linda cantiga! Deve ser um orgulho imenso ter um pai poeta.
Deixei um miminho lindo no meu blog para ti.
Bj
Mena

Zé Al disse...

Palavras para quê!Maravilhoso poema!Já tinha saudades de um poema de seu pai,dê-lhe os meus parabéns!

xinoca disse...

Mais um lindo poema do meu PAI.... gostei! só lamento não ter herdado a veia dele.....

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