quinta-feira, outubro 28, 2010

Continuando com a poesia de Agostinho Fardilha

Poesia do Século XVII

A Poesia Lírica Cultista e Conceptista

O cancioneiro barroco: A “Fénix Renascida” e o “Postilhão de Apolo”



E a “viagem” continua com o poeta

Padre Eusébio de Matos



A uma noiva chamada Áurea



Oitavas


Linda noiva, por que Áurea te chamas?
Chamas serão labaredas do Amor
que te lança nos braços de quem amas?
Teu cabelo ao ouro furtou a cor,
que, ao raiar da Aurora, nela derramas.
Em breve chegará o teu senhor.
Prepara a candeia. Acende o pavio.
Vem alegre. Já se ouve o assobio.


Estás cheio de vida. Qual teu nome?
Nomeado p’ra noivo desta dama
foste. Sou de linhagem de renome,
porém, de limitada dinheirama.
Argênteo de baptismo é prenome.
Ouro e prata matizam nossa cama.
E, se nenhum impedimento houver,
hoje, Deus faz-nos marido e mulher.


Estão já decorridos nove meses,
meses habituais p’ro nascimento.
As dores do parto surgem mais vezes
e os pais, ansiosos, esperam o evento.
Que cor tem o filho destes fregueses!
Não é do ouro, nem da prata, o rebento,
mas do ferro. Vem c’ele a nova era,
em que a Humanidade se torna fera.




Vocabulário
Freguês = paroquiano


imagem:internet


Agostinho Alves Fardilha (o meu Pai)
Coimbra

14 comentários:

António Faria disse...

Bela homenagem ao poeta, onde está patente a preocupação em manter o estilo vernáculo e fluente que o caracterizou.

Parabéns!

Abraço

Anónimo disse...

Oi amiga, espero que estejas com muita saúde, paz e com muitas alegrias.

Sinto saudades, de nossas idas e vindas aos blogs, agora com tantos compromissos, ficou mais difícil fazer tantas visitas, e também o n° de seguidores aumentou muito, fica complicado estar sempre em dia nessa parte.

Deve ser maravilhoso ter um pai poeta e partilhar tantos versos lindos.

Parabéns ao seu pai por tanto talento.

Beijinhos no coração
LIARTRIO

lis disse...

Vou conhecendo novos poetas com as publicações do Agostinho , seu pai Mlisa.
O nome me lembra outro brasileiro - Gregório de Matos que conheço e tem uma obra extensa li pouco dele , alguma coisa.
Os sobrenomes á época eram comuns ,certamente.
depois, com tempo pesquiso.
Obrigada , gostei do lirismo romântico .
muitos abraços pra sr.Agostinho extensivos a voce querida

Daniela Tavares disse...

Olá Elisa,

Aqui é que as palavras bailam. Aqueles são os meus textos, ando motivadapara tal: temos épocas, não é?
Lindo poema, fantástico poeta. (:

Beijo,
Daniela.

Lídia Borges disse...

A poesia clássica e o talento num conjunto admirável.

L.B.

Lilá(s) disse...

E mais uma belíssima pérola poética!
Bjs

GRAÇA disse...

Bonita omenagem ao poeta
Venho desejar um bom fim de semana
Bjs
Graça

Maria Luisa Adães disse...

Bela homenagem ao poeta!

Que bom não ser esquecido por
pessoas assim...

Com ternura,

Mª. Luísa

ITATIANA ALVES disse...

Vim aqui para orar por vcs? Soberano Deus e Eterno Pai!Entro em sua presença nesta hora, para pedir que abençoe essa pessoa que está orando comigo, Nas áreas: Física, financeira, espiritual, conjugal, sentimental e familiar. Pai! Se por algum motivo, o inimigo estiver tramando algo, para atrapalhar os planos e sonhos dessa pessoa que é tão importante pra ti e para mim! Nessa hora seja desfeito todo mal, em nome do Senhor Jesus, envia anjos ao redor da vida dela, e faz dela mais que vencedora... Para que o nome do senhor seja glorificado através dessa oração.

O SENHOR E O MEU PASTOR E NADA ME FALTARAR!!!
ABRACOS A TODOS E FIQUEM COM DEUS!!!

Anónimo disse...

Tal e qual como diz o primeiro comentador
António Faria,faço minhas as suas palavras.
É uma bela homenagem,onde está bem patente o " estilo vernáculo e fluente.
Muitas das vezes as palavras apenas são uma tradução do sentimento do comentador.
"Nunca ouviram dizer :
Palavras está o mundo cheio!»

Mas apesar disto eu não consigo comentar com poucas palavras.

Começaria pela foto aqui anexada.
Não, não tem graciosidade nem exprime o Amor em efervescência, própria do momento do casamento.
É bem intencional, e atinge todo o seu objectivo.Unem-se os corpos ,mas sem o romantismo que tanto nos delicia!!!

O título escolhido" A uma noiva chamada Áurea" possui uma intencionalidade bem forte do poeta!!!

Será que as noivas não estão sempre sobre o envolto da Áurea Celestial?
Será que as noivas por menos bonitas que sejam , não estão sempre atraentes
e belas no dia do seu enlace?
A natureza também é nossa mãe!

Estas oitavas formam três estrofes.
A primeira oitava é iniciada com o adjectivo "linda" que lhe dá toda a fidelidade da construção literária

«Linda noiva, por que Áurea te chamas?

Está patente a preocupação em manter o estilo vernáculo e fluente
É muito directo e não usa , não precisa de artificialismos pois vai direitinho ao que pretende
«Chamas serão labaredas do Amor»
Esta comparação «chamas serão labaredas»,é feita duma forma desconcertante.Não encontro" beleza sentimental»
A descrição que faz de noiva é simplesmente um afastamento deliberado, causado por conceitos que nos transpõem para paradoxos.Assim

«Teu cabelo ao ouro furtou a cor,
que, ao raiar da Aurora, nela derramas.

Não consigo imaginar esta noiva, com uns lindos e loiros cabelos.Apenas o que leio me fixa a atenção e com a curiosidade de chegar ao fim, para apreciar este género literário.

O poeta, entra em devaneio literário!!!
Será que uma noiva necessita destes conselhos???

«Em breve chegará o teu senhor
Prepara a candeia. Acende o pavio.
Vem alegre. Já se ouve o assobio.»

As noivas necessitarão mesmo destes apartes do poeta???
Mas aqui está a força desta escola
Sente-se este "deliberado afastamento" da Beleza de um casamento.


Na segunda oitava, ou seja na segunda estrofe o poeta entra no "cenário do noivo" com uma rapidez impressionante
Sem rodeios. Entra num diálogo apressado e muito directo,e não se poupando à descrição de conceitos bem aceites desse tempo.E o diálogo
é iniciado assim:

«Estás cheio de vida.( verificar o extraordinário domínio de expressão)»

Não há etiqueta de tratamento. O tratar "o outro por tu" já um sinal "errado"(?)

O diálogo também continua muito aberto e "sem preocupações de imagem",da parte do noivo, mas não deixando de acrescentar que o seu passado é de linhagem

«Sou de linhagem de renome,
porém, de limitada dinheirama
.............................,
mas é evidente o seu grau social que logo se desmascara com a apurada atribuiçao da sua(s) cama.

«Ouro e prata matizam nossa cama».

É "castiça" esta expressão por parte do noivo.Primeiro porque se apresenta com dotes de linhagem e de imediato se desmascara.
É um paralelo de paradoxos!!!

A última oitava é "sincera".
Nada há de novo.O ciclo da vida é assim.Depois do casamento vêm os filhos
Os pais, naturalmente que esperam pelo evento.
A ansiedade também predomina nestas alturas.

Mas o que é bem visível é a aspereza com que o poeta termina a oitava exclamando

«Não é do ouro, nem da prata, o rebento,
mas do ferro.Vem c'ele a nova era,
em que a Humanidade se torna fera.»

Sim. Em todos os tempos há crises e devaneios.

Esta oitavas são mais uma vez uma obra prima retratando fielmente a corrente literária desse tempo.
Como nunca será demais fazer justiça àqueles que dão o seu contributo literário, aqui vão mais uma vez os meus sinceros agradecimentos pelo despertar da poesia, que é sempre viva.
PARABÉNS! PARABÉNS Dr. Agostinho.

Parabéns Elisa pelo teu querido pai.

artes_romao disse...

boa noite, tudo bem?
que belíssimos momentos de poesia;)
bom fdsemana.
fica bem,jinhos***

mfc disse...

Um final que bem se podia aplicar aos dias de hoje...
Parabéns.

Carmo disse...

Olá Elisa, agradeço ao seu pai o dar-me a conhecer outros poetas.
Beijinhos
Boa semana

Savi disse...

Olá Elisa
Ai amiga ando atrasada com as visitas,mas o motivo é a falta de tempo,mas hoje lá tirei um tempinho para pôr as visitas em dia.
Mais um fantástico poema de seu pai que é uma pessoa muito culta.
Beijinhos uma semana muito tranquila e sem chuva de preferência.
Savi

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