D.Francisco Manuel de Melo
(1608 – 1666)
Na estrutura das suas Obras Métricas sofre a influência das “Nueve Musas Castelhanas” de Quevedo, figura brilhante de uma grande época da literatura do país vizinho.
As segundas três Musas de Melodino constituem a sua constibruição poética em língua portuguesa, já que as primeiras e as terceiras “Três Musas” foram redigidas em Castelhano.
“D. Francisco Manuel de Melo é, em Portugal, a personificação mais acabada da cultura aristrocática peninsular na época da Restauração.
No “Canto de Babilónia” inspira-se em “Sôbolos rios…, de Camões”.
Vamos recordá-lo em o
Canto de Portugal (Babilónia ou Sião?)
I
Sobre as águas do Douro
chega a deserta colónia,
semelhante a Babilónia,
p’ra expulsar gentio e mouro,
alguém perto da Francónia.
II
Após luta se assentou,
fazendo a Deus a promessa:
“que vivo como ora estou,
aumentarei e sem pressa
o Condado que ele herdou”.
III
O filho colheu do pai
afadigado quinhão:
foi a primeira Sião
mas, prestes, considerai:
vem Bolonha e a união.
IV
Morre um rei e outro vem,
seguindo as leis do passado.
Rei, mas tempo se mantém;
o que se vê alterado
é o desejo, porém.
V
D. Dinis nos alumia,
D. Afonso nos aquenta,
mas Rainha, que alimenta
o povo que lhe pedia,
a paz também acrescenta.
VI
Rei D.Pedro foi a lua
que a escuridão apagou:
pequena foi a obra sua,
mas foi ele quem fundou
a Babilónia de rua.
VII
Rei D. Fernando traiu
a confiança do povo.
Quiçá amoroso e novo,
pensar não quis ou não viu
qu’amor parte como um ovo.
VIII
A ínclita geração
ditosa e louvada seja,
criada por D.João
ao reino foi benfazeja,
como divinal Sião.
IX
Perante forte nobreza
Afonso V cedeu
e confusão acendeu.
Inseguro, com certeza,
reino no escuro meteu.
X
Grande rei, forjaste logo
leis que nobreza moleste.
Contigo e em desafogo
vivemos e até nos deste
a visão do Mundo, em jogo.
XI
D.Manuel venturoso
por Oriente esventrar:
abastança vai tirar,
mas se parece mimoso,
ditoso não terá par.
XII
A riqueza tem seus ramos
que a peso fazem dobrar:
D.João e os nobres amos
não souberam colocar
às despesas os açamos.
XIII
Sebastião, rei insano (?),
guerra incerta originou:
malvados quem o forçou
a tão acto tresloucado
que o país arruinou.
XIV
Triste tempo fraudulento
donde todo mal emana:
nós fizemos de jumento,
Espanha, de bom sacana.
Custou, mas foi fermento…
XV
A vontade da Nação
encarnou o pensamento
pelo afortunado advento
do mui nobre D.João,
regressando o entendimento.
XVI
Ao que escrevi sou fiel:
houve, sem qualquer desdém,
mais confusão de Babel
do que Sião de Belém
ou Jerusalém de Abel.
Vocabulário:
Babilónia =Babel, grande confusão
Sião = Jerusalém sagrada, paz e progresso
aquentar = animar
mimoso = débil
bom = grande
Abel – irmão de Caim
Agostinho Alves Fardilha (o meu pai)
Coimbra
9 comentários:
Rigor e perfeição habituais.
Parabéns.
Abraço.
Que belo !! Mona Lisa !!
Passando pra agradecer suas palavras de carinho e conforto lá no meu cantinho.
beijos
Mais um grande poema.
Querida amiga, boa semana.
Beijos.
A métrica precisa em redondilha maior a descrever uma época importante da nossa História.
Tão perfeito! que lindo e querido pai.
Beijinhos aos dois
E assim fazem os poetas verdadeiros milagres com as palavras. São preciosas as palavras e com elas podemos cometer actos que vão do mais nobre ao mais hediondo; teem um poder imenso! Só grandes poetas conseguem, com um punhado delas contar grandes feitos e foi isso o que fez o seu pai; uma época da nossa história retrada com tão poucas palvras alinhadas com mestria. Parabéns e obrigada por partilhares poesia tão bela. Um beijinho
Emília
boa noite,td bem?
gostei imenso das novidades.
fica bem,jinhos***
Mais uma vez, dá os meus parabéns ao teu Pai! Ele consegue sempre surprender-me com a sua habilidade para a poesia.
Bj
Milai
Diz o ditado:
"Mais vale tarde do que nunca".
Se os professores possuíssem um pouquinho desta capacidade de transformar "a informação em momento de prazer e de desejo de aprender", como este nosso amigo e poeta Agostinho, os alunos mudariam de opinião quanto ao ensino.
Mas os dons são como prendas que recebemos!
Mas penso que todos aqueles que leccionam, deveriam apostar mais na sua profissão.
Profissão exercida como uma obrigação!
Como lamento!
Neste trabalho poético,revemos uma parte da história duma forma agradável.
Ela é apresentada com toda a veracidade , rigor e perfeição.
Sempre podemos tirar uma conclusão moral da história!
Na segunda estrofe o poeta realça a devoção a Deus
«fazendo a Deus a promessa:»
Sentimos uma grande ausência do Deus que tanto pode! em todas as pessoas que têm obrigações para com o nosso
país;
Sentimos uma grande ausência de espírito de luta e de conquista para melhorar este país;
Mas se houvesse vontade de trabalhar...
Temos alguém semelhante a D.Dinis?!
«... nos alumia,»
Os bons exemplos deveriam ser seguidos
«Rei D. Pedro foi a lua
que a escuridão apagou:»
É urgente, ter alguém que nos tira do escuro! Quando acontecerá?
Ter poder e nada construir! Que pena!
Nem que fosse pouco...
«pequena foi a obra sua,»
Há que fazer algo pelos outros:
«mas foi ele quem fundou
a Babilónia de rua.»
O povo português não pede muito.Pede sim, que se faça alguma coisa e não que se destrua o que se tem!!!
Também houve e haverá pessoas com falta de maturidade.Oh! se há!
«...D.Fernando traiu
......................................
Quiçá amoroso e novo,
pensar não quis ou não viu»
Portugueses, pensem bem nos seus actos irreflectidos.
Será que temos o que merecemos?!
«qu'amor parte como um ovo.»
A VIII estrofe é um testemunho de grandiosidade moral e patriótica:
«A Ínclita geração
ditosa e louvada seja,»
Todos aprendemos história, nos primeiros tempos de escolaridade.
Jamais esta parte será esquecida.
Ficou para sempre na memória.
E, porquê? Fácil a resposta e difícil a execução.
Seria tão bom que a história tocasse quem governa e o nosso Portugal se tornasse:
«como divinal Sião»
Não me debruçarei sobre os actos irreflectidos de alguns reis, que com exactidão estão narrados.
Interessa o bom para seguir.
Então o nosso D. João dá gratuitamente uma pista para quem precisa... de ser chamado à razão ,pois
«A vontade da Nação»
deveria ser prioritária
«encarnou o pensamento»
Que exposição tão clara , evidente e urgente para o nosso governo.
A isto chama-se NOBREZA de carácter.
«do mui nobre D. João,
regressando o entendimento.»
houve um "grande advento", mas quando se é lutador honesto e patriótico acabam-se os problemas.
Que grande lição!
Que aviso!
Que conselho!
Com muita fidelidade foi escrito este belíssimo poema.
Há nele um grande incentivo!
Resta-me agradecer este momento de pausa e de reflexão.
Mais uma vez ,obrigada.
PARABÉNS, amigo e poeta Agostinho.
Para ti Elisa, também os meus sinceros parabéns e agradecimento pelo teu trabalho.
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