Paulino António Cabral de Vasconcelos
(Abade de Jazente)
(1719 – 1789)
“ Natural de Amarante, foi Abade em Jazente e frequentou os círculos sociais e mundanos da burguesia portuense, incluindo uma Academia Portuense que reunia no paço episcopal do Porto.
O Abade de Jazente, padre e anti – ultramontano, inclui na “áurea mediania” e no epicurismo horacianos a amizade pelos seus cães de caça e as efemérides das suas aventuras eróticas. Mas o que há mais de vivo na sua obra é o diário da sua própria vida íntima, referindo-se à sua amada ou pedindo a morte para fugir à velhice caquéctica e à doença.
Sem atingir o ofício e a amplidão temática de Nicolau Tolentino, mais novo uns anos que o poeta de Amarante, deve ser considerado, todavia,um dos grandes poetas satíricos da nossa literatura, um agudíssimo e filosófico observador dos costumes da burguesia nortenha.”
Honremo-lo com 2 sonetos:
I-A insconstância do amor juvenil
II-“Carpe diem”…(goza a vida o melhor possível, porque ela é curta)
I-A inconstância do amor juvenil
A esse ovo matizado que fizeste
Ó querida, encanto dos olhos meus?
Descuidada, estorcegaste os pés teus:
Caíste, partiu-se e tenção desdeste.
Comprámos um balão azul celeste,
mas alheios ao ar e aos escarcéus,
prenhe de mais, roçando nos ilhéus,
estoirou; Cupido a fugir foi preste.
Saltam as fogueiras de S.João
enlaçados os dois. Mas as orvalhadas
tudo apagam e lá vai mesmo a afeição.
O amor, na juventude, alfinetadas
sofre às vezes: tal ovo a ir ao chão,
do balão e das fogueiras, risadas.
Vocabulário:
Tenção=intenção
Desdar=desfazer
Ilhéu= rochedo no meio do mar
II-“Carpe diem…”
Se fores ao Porto, ouve o meu conselho:
saboreia as tripas e as gostosas papas
de sarrabulho. Não e’squeças de natas
o bacalhau e o pernil já vermelho.
Vai , amigo, mesmo que doa o artelho,
à Foz do Douro e aprecia as lapas,
outrora – dizem – alimento dos trapos.
Come à vontade. Ainda não és velho.
Não irás beber água, com certeza.
Prova o puro verdinho de Amarante.
No fim, verás ser pequena a despeza.
Vida curta, sim, mas nela és migrante.
Prepara teu futuro com destreza,
sendo do corpo o espírito mandante.
Vocabulário:
Lapa= molusco
Trapa= trapista (membro de ordem monástica)
Fotos :internet
Agostinho Alves Fardilha (o meu pai)
Coimbra
12 comentários:
Bela homenagem a um poeta que se destacou pela ligeireza de grande parte dos seus poemas.
Abraço.
AA.
Desconheço o poeta.
Gostei dos sonetos em sua homenagem,particularmente do segundo.
Beijos.
Dois poemas belíssimos e linda homenagem, para começar uma semana maravilhosa.
beijos mil e um dia ótimo prá vc!
Amei!
Bj para ti e para o talentoso papá!
Quanta poesia e boa disposição por esse país fora. E no entanto tão desconhecida.
Contra mim falo que não conhecia o poeta e muito apreciei este momento, aqui.
Um beijo
olá Elisa!
O teu Pai nunca deixa de me surpreender agradàvelmente.
Um beijo para ele com os meus sinceros
parabéns!
Bj
Milai
Ligeiro, simples e belo esse poema,
parabéns ao Poeta e Páscoa Feliz para todos.
Com ternura agradeço a visita ao meu poema.Um beijo,
Maria Luísa
Aprendendo sempre que venho aqui.
Feliz Páscoa para você e seus caros!
... ainda bem que há sempre um abade desconhecido
levantado do chão
Boa mesmo!"estou gozando a vida o melhor possível"...
Bjs
Apreciei os dois sonetos, mas ficou-me o olhar naquele lindo roteiro gastronómico do Porto.
Uma vez mais te agradeço o dares a conhecer a bBELA POESIA do nosso PAI.
Bjs
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