terça-feira, janeiro 22, 2013

sábado, janeiro 19, 2013

quarta-feira, janeiro 16, 2013

Momento de poesia com Agostinho Fardilha


João Penha

(João Penha de Oliveira Fortuna)
(1838 – 1919)

“Nasceu em Braga e licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra. O vate bracarense fundou a revista “ A Folha”, onde colaboraram vultos como Cândido de Figueiredo, Teófilo Braga, Gonçalves Crespo, Sousa Viterbo, Guerra Junqueiro, etc.
            Esta revista pode considerar-se como o ponto de partida da poesia parnasiana e realista. A sua influência foi muito importante como reacção contra o ultra-romantismo.
             Como poeta, João Penha recupera, sobretudo, o soneto da escola italiana e a camoniana oitava rima, levando ao excesso o aprumo formal e a atitude antilírica, mordaz programaticamente contra toda a herança do romantismo e da sua degenerescênca ultra-romântica.
Albino Forjaz de Sampaio resume o seu epicurismo acintoso numa frase: “ A sua musa, vulgada pelas Rimas, cantava duas coisas: o vinho e as mulheres”.


Lembremo-lo com as composições poéticas que se seguem.



I

Pecados

                        1

Entre agrestes penhascos alcandorada
p’ros lados do Marão labuta o povo
numa rude aldeola mourejada
nos trabalhos da terra, seu renovo.
Por falta de higiene era empestada,
oh! Céus, não de mau cheiro, mas de novo
vinho só feito c’uva da “ex matre”,
tão bom que torna fofo o duro catre.

                        2

Um cura pastoreia os crentes em Deus,
de barriga qual dorna sempre cheia
de saboroso vinho e trajes seus
manchados por frequente bebedeira,
emborca, de manhã, com bons pitéus,
enorme canjirão: uma braseira
parecem as bochechas. Mas fregueses
gostam dos seus sermões, embora soezes.

                        3

Em certa Missa, o frade criticou
quem tiver relações sexuais fora
do casamento: Adão só Eva amou.
Mas um paroquiano, sem demora,
o frei interpelando, perguntou:
apanho uma piela a toda a hora.
Pecado beber tanto? Cura, então:
traz calma ao nosso corpo. Assim, é Não.



Vocabulário:
Renovo= horta
“ex matre” = só da videira (sem mistura)
Soez = estúpido


                                                                  II

O Vinho
(soneto de versos com sete sílabas)


Vinho primeiro que nós?
Talvez recepção divina,
augurando boa sina
saída da Sua Voz.


Abel e Caim feroz
luta aos dois os desatina:
o vinho foi a ruína
e a morte veio após.


Horácio , em ode sublime,
elogia vinho puro,
que o coração sempre anime


por mais qu’ele seja duro.
A sua falta deprime
Canaá que fica em apuro.



                                                                       III

Qual dos dois?

            1

Sou feliz p’la minha amada.
Comprei, porém, um cacete
e de reforço um porrete
para quebrar a ossada
a quem deitou uma olhada
para a linda Dulcineia,
a mais esbelta da aldeia.
Ele é rico, mas labrego;
parece mais um borrego,
sempre de barriga cheia.


                        2

Fico sempre todo em brasas,
se maravilhada vês,
quando esse porco montês
diz ter numerosas casas.
É com elas que te aprazas?
Ser feliz tem mais valor:
olha p’ra este trovador
e dá-lhe o teu coração:
farás um ajuste bom,
e em meu jardim serás flor.


                        3

Vou dizer quem somos nós.
Depois ajuizarás
e quem vale mais dirás.
De uma vida é a foz
casar. Não sejas veloz.
Oh! Vem aí o jumento.
Sem chapéu o cumprimento.
Todo ele exibe riqueza
com a falta de limpeza:
é cara sem escarmento!


                        4

Entrou na enfeitada sala,
mostrando dourados estribos,
cabeleira como os chibos.
O dono olha, mas se cala,
porém dona deita fala,
atalhando verborreia,
mandando servir a ceia.
Com lábio enxuga nariz;
Não come, engole o infeliz.
Não merece uma tareia?


                        5

Mas tu, formosa menina,
bem me conheces: nos dias
alegres em que taça enchias;
tristes, quaresma domina,
mas sem zanga pequenina.
Com monóculo a doçura
dos olhos cubro. Ela é alvura.
Sou culto p’ros portugueses
e o mais puro dos burgueses.
Face magra tem brandura.


                        6

Minhas cantigas são lindas
e apreciadas também
p’las moças, que, sem desdém,
dizem que mais são benvindas.
Sou o homem que não rescindas.
Pensa e diz: seu carroção
queres, mais currais e chão,
caxemiras e mais presentes
ou minha choça sem gentes:
só eu e o meu coração?


Vocabulário:
Ver= prever
Aprazar= ajustar
Escarmento = vergonha
Atalhar= interromper
Quaresma =abatimento
Chão= propriedade rústica



Agostinho Alves Fardilha (o meu pai)
Coimbra





segunda-feira, janeiro 14, 2013

sábado, janeiro 12, 2013

um olhar


Foto minha

É fim de tarde. Tudo lembra o " Toque a Recolher".
O dia adormece. As nuvens vestem-se de negro, acordando a noite. As gaivotas recolhem-se ao aconchego do lar.


segunda-feira, janeiro 07, 2013

Um olhar


Foto minha

A vida é uma luta constante
em busca do pão de cada dia.
Todos anseiam, mesmo à porfia,
fazer parte da classe importante.
Com o tempo já em agonia,
a pé, de carro, sem abulia,
ao lar regressam, qual emigrante.

Agostinho Alves Fardilha (o meu pai)
Coimbra

sexta-feira, janeiro 04, 2013

Um olhar



Fotos minhas


(...)
Já sem o receio de outras eras
Os meus tempos foram outros
Terminei a minha faina habitual
Não sei se estou pior se mais feliz
Sou um símbolo do passado nacional
Dei ao mundo a conhecer o meu país
Agora sou um souvenir de Portugal

(André Moa)
(...)

terça-feira, janeiro 01, 2013

Momento de poesia com Agostinho Fardilha


Foto minha

Janeiro (signo do Tigre)

Já conheço virtudes tuas:
amor, coragem e até aventura;
no orgulho, porém, não recuas
e a teimosia, ela perdura:
inflexível muitas vezes és,
rareando ,em ti, o revés;
o tigre e tu, de lés-a-lés.



Horóscopos Chineses (segundo Rita Danyliuk)


Agostinho Alves Fardilha (o meu pai)
Coimbra


Feliz Ano Novo


Foto minha

para todos VÓS

domingo, dezembro 30, 2012

Li e gostei (mensagem de fim de ano)


Foto minha


Para você ganhar belíssimo Ano Novo...
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.

(...)

Para ganhar um Ano Novo que mereça
este nome, você, meu caro, tem de
merecê-lo, tem de fazê-lo novo,


Eu sei que não é fácil mas tente,
experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
dorme e espera desde sempre.



(autor desconhecido)

quinta-feira, dezembro 27, 2012

Um olhar


Foto minha


Inverno, tens peculiar beleza.
Não faltam enamorados com certeza:
lembram-se dos desportos e da caça?
Há germinação p'ra que a seguir nasça!
O pinheiro não se despe e o alegra;
candeeiro raro cenário integra:
um refresca o ar com sua cor,
d'outro, o frio ilude, a luz e calor.


Agostinho Fardilha (o meu pai)
Coimbra

domingo, dezembro 23, 2012

Li e gostei


Foto minha


(...) Quem alguma vez amou
e quem ainda sente o amor,
 sabe que ele é uma ALEGRIA

onde também palpita a dor.

Porque o abraço envolve dois.
Não se pode ABRAÇAR sozinho.

(...) Quanto às pessoas, a sua linguagem
dos abraços é muito multicor.
Porque é INFINITA a criatividade
que um abraço contém.

Por exemplo:
Há os que gostam de se abraçar de verdade,
corpo contra corpo,

e os que gostam de se abraçar,
leve, ao-de-leve, nas pontas dos dedos.

Há os que gostam de se abraçar à distância,
ATRAVÉS DOS OLHOS.
O abraço entre eles é discreto, subtil.

abraços tão  LONGOS
que conseguem alcançar os céus
e abraços que nos percorrem dos pés à cabeça.
Em certos abraços as mãos ficam inquietas.
abraços feitos de sorrisos e de risos
e um abraço que conforta e vence a solidão.
E há abraços de alegria
e também abraços onde receamos
a hora em que teremos de nos separar.

Depois de uma briga, é muito consolador e jamais magoa
aquele abraço de reconciliação onde se recupera a paz.

A luz invade o escuro, a noite procura o dia.
Eis o abraço que envolve os contrários.

Um abraço quando se dança,
um abraço dentro do abraço
e, súbito, o abraço de despedida.

Um abraço carinhoso a desejarmos "boa noite"
e um abraço especial que nos diz "olá"
e aquele que nos fala apenas de "adeus".

O abraço que vem de MUITO LONGE NO TEMPO,
repleto de saudades,
mergulha no nosso coração
e jamais o esqueceremos.


quarta-feira, dezembro 19, 2012

domingo, dezembro 16, 2012

Momento de poesia com Agostinho Fardilha

João de Deus

(João de Deus Ramos)

(1830-1896)

“Foi estudar Direito para Coimbra, onde levou dez anos a completar o curso e conheceu alguns componentes da Geração de 70, de entre os quais se ligou sobretudo a Antero e Teófilo Braga. Em Coimbra, tornou-se popular como poeta e improvisador à guitarra, consagrando-se no ambiente de boémia estudantil da época. Depois de casado, leva uma vida mais ordeira e dedica-se à pedagogia, criando a célebre CARTILHA MATERNAL, publicada em 1876, método racional de ensinar a ler que propicia uma campanha contra o analfabetismo e que foi adoptada em todo o País.
João de Deus pertence cronologicamente à segunda geração romântica, mas afasta-se do chamado ultra- romantismo, cujos excessos sentimentalistas e funéreos condena. Já então defende uma depuração do lirismo romântico, propondo, na senda de Garrett, um regresso às fontes do lirismo tradicional galaico- português, do romanceiro e de Camões, de que retoma a arte do soneto.
A poesia de João de Deus impõe-se imediatamente pela sua enorme simplicidade e beleza. Toda feita de palavras simples, num tom coloquial, ora irónico, ora melancólico e sentimental, ela consegue ainda hoje impressionar pela técnica segura,pelo grande domínio de todos os metros, nas mais variadas combinações.
A poesia de João de Deus não deixa, pela sua simplicidade, de revelar interesse por tudo o que o rodeava à sua volta, e, à sua maneira, não deixou de ser um poeta militante, militante da poesia.
Teófilo Braga, que tinha por ele uma enorme admiração, organizou uma colectânea das suas poesias, em 1893, a que foi dado o  nome de CAMPO DE FLORES.
Se houve poeta que fosse celebrado em vida e durante ela recebeu as maiores honrarias, este foi sem dúvida o imortal cantor de “ A Engeitadinha”, que nem as gerações mais modernas esquecem de saber de cor”.


Recordemo-lo com as modestas composições que se seguem



I

Até do céu caem lágrimas


          1
Quem no Céu chorou?
Talvez Deus- Menino:
frio suportou,
sendo pequenino.

          2
Cá na Terra viu
d’Herodes a maldade
e com Pais fugiu,
não sem piedade.

           3
Foram degolados
muitos inocentes,
agora sentados
em divos aposentos.

                4
Com tanta injustiça,
o pobre de fome
à Virgem castiça
pede que p’ra ele olhe.

              5
Rota, quase nua
vai esta criança.
Como a Terra é crua
e sem esperança!

           6
Olha os sem- abrigo.
Que dor d’alma vê-los!
Coração amigo,
p’r’eles faz apelos.

Vocabulário:
castiça= pura

II

Os teus beijos


           1
Um beijo dás;
lesta serás?
     Não?
Na minha face
uma flor nasce:
   quão?

          2
Que aconteceu?
Um Anjo desceu.
         Só?
P’ra nós olhou
e não corou.
      Oh!

        3
Mais beijos, Amor.
Tens outra cor.
     Dois?
Junto de ti
E sempre aqui.
       Pois!

            4
Quero mais um;
logo, nenhum.
         Vês?
Beijos dão vida.
Já são, querida,
         três.


Vocabulário
Quão= como?
Pois= sim


III

Os meus Namorados

         1
Namoro com três
de desigual cor
um de cada vez.
O branco é uma flor;
do preto o nariz,
em nada pequeno,
brilha c’o verniz.
O outro é moreno.

               2
Todos o casamento
pedem. Serei tola?
Em mim há assento:
destreza vou pô-la,
querendo o melhor.
Já provei os beijos:
nenhum tem bolor.
Tenho outros desejos:

             3
apertados abraços;
mas que mal há nisso?
Não furam os regaços,
nem causam o enguiço.
O calor dos corpos
dá-nos excitação,
porém não aos mortos.
Tudo entra em acção.

              4
Temos de gozar,
porque curta é a vida.
P’ra saborear
qual boa comida,
não façais asneiras:
dizei que os amais,
mas ficai solteiras:
forras valem mais.



 Vocabulário:
Bolor= velhice
Forra= livre
Destreza= sagacidade


IV

Os olhos são janelas do coração


1
És planta em flor que cuidei.
Serei
dela seu tronco e amparo;
de rosas e cravos conjuntos,
juntos
muitos faremos, pois claro.

2
Choras. Olha para mim;
assim
vejo que estás a sofrer.
No teu coração há dor,
amor
também. A qual vais ceder?

3
Comigo podes falar,
gritar
até, pois essa tua Alma,
cristalina e muito pura,
agrura
não quer, mas somente calma.

4
Compaixão de ti eu tenho,
            e venho
mui ligeiro em tua ajuda.
Quero que toda a ternura,
candura
se erga e nunca fique muda.

Vocabulário
pois claro= certamente


V
A Engeitadinha

Por que choras, queridinha?
“Quero comer e agasalho”.
Não tens medo de andar sozinha?
Acabada de nascer,
pareces-me uma avezinha
que descuidada caiu
do ninho, no alto instalado.
A mãe (e)stá no povoado?
“Nunca a vi. Ela fugiu”.
A minha inda me criou,
mas Deus p’ro Céu a levou.




                                                                                  VI
                                                               
Saudades de Coimbra


Já tenho as solas rotas de subir
e descer as ladeiras por dez anos,
tornando-me o mais velho dos decanos
do Curso de Direito a concluir.

(E)studar e da guitarra o seu tinir
das cordas eram inimigos veteranos.
Até pielas e bródios os ufanos
e façanhudos lentes punham a rir.

E as tricanas roliças, boa perna,
n’águas do Mondego eu ia ver;
porém, no final d’ano vem paterna

reprimenda por mais um chumbo haver.
O coração terá saudade eterna,
pois qual tu, ó Coimbra, outra não ser.


Vocabulário:
Façanhudo= mal-encarado


Agostinho Alves Fardilha (o meu pai)
Coimbra


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