domingo, fevereiro 17, 2013

Momento de poesia com Agostinho Fardilha


Antero de Quental

(Antero Tarquínio de Quental)
(1842 – 1891)

“ Nasceu em 18 de Abril de 1842, tendo-lhe servido Ponta Delgada de berço. A família, de que descendia, era da boa e antiga nobreza local. Depois de estudos nos Açores, vem para Lisboa, donde passa para Coimbra, onde se matriculou na Faculdade de Direito.
Em 1865 é o ano do seu famoso e discutidíssimo livro ODES MODERNAS, livro perfeitamente revolucionário no contexto da poesia do tempo. Com ele torna-se Antero no líder incontestado da poesia mais avançada, a verdadeira vanguarda da época. Esse papel de Mestre de geração confirma-o na questão que vai ter com António Feliciano de Castilho. A carta que lhe dirige, sob o título de BOM SENSO e BOM GOSTO, iniciará a polémica mais célebre de toda a Literatura de Portugal. Raros foram aqueles que nela não se envolveram.Passou à história sob o nome de “Questão Coimbrã”. O movimento de ideias desencadeado pela polémica abre caminho para as não menos celebradas CONFERÊNCIAS DEMOCRÁTICAS DO CASINO, a partir das quais se pode considerar como definitivamente estabelecidas, quer a Geração de 1870 quer a  Escola Coimbrã.
Antero, sob a influência predominante do romantismo alemão, relacionando poesia com filosofia, pode dizer-se que ele sintetiza em Portugal, desde os anos de 60 do século XIX, todos os principais romantismos europeus.
A poesia de Antero mantém uma constante tendência para a expressão de ideias antes de mais filosóficas, mas também históricas e sócio – políticas.
Assim, em suma, trata-se de um poeta que nunca se separa totalmente do pensador, assimilando modelos diversos de um romantismo europeu até então quase desconhecido em Portugal e transfigurando-os em hipóteses de uma escrita voltada para o futuro, simultaneamente tradicional e renovadora, nacional e universal”


Honremo-lo com 3 sonetos, respeitando o pensamento do Poeta e a estrutura das suas principais composições poéticas.



A mão direita de Deus


Sou amontoação mais de aparências;
procurei certo dia a mão a Deus
e nela arrecadei cuidados meus,
ilusões e do peito minhas ardências.

Recordei múltiplas e infantis essências,
espólio imperfeito dos vários eus;
as quimeras e os amores, todos sandeus,
disformes e até escapados às ciências.

Sonhei que certa noite a querida ama,
apertando-me ao colo seu, da cama
me tirou e alegres já no céu

vimos as maravilhas naturais
que permanecem apenas outras iguais
na dextra mão divina toda ao léu.



Túmulo Romantizado


Procurando a primeira causa, humano
coração precipita-se no mar
da vida, produzindo ondas sem- par
de ventos já rebeldes e com seu dano.

Exausto , o coração já mui arcano,
pelo estival braseiro a suportar
p´ra em rigoroso inverno aguentar
o gélido rigor do desengano.

Mas, paulatinamente dissolvendo,
sendo o pó o seu último remendo
que o vento, em remoinho, tudo espanta.

E o coração cansado e já ferido
por desvairado fruto de Cupido
desaparece e já ninguém encanta.


Onde mora a felicidade?


Como um aventureiro andante vou
procurando onde mora a boa sorte;
desertos e matagais neles estou,
indo de dia ou noite, mas sem norte.

Já sem forças, o Amor me estimulou
a não interromper e lá recorte
vi ao longe:um palácio. Parou
meu ser. Mas escapei de triste morte.

Era lindo e com luzes a cintilar:
devia ali viver quem cria amar.
Violento gritei: felicidade

procuro. Abri a porta. Mas só dor
havia mais silêncio e o terror
que ensanguenta toda a Humanidade.



Agostinho Alves Fardilha (o meu pai)
Coimbra


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