quarta-feira, novembro 04, 2009

Trovas (Final)


“Quem, neste mundo, amou de mais, terá, no outro, cuidados dobrados.”
Será assim?


Que fulvo nascer do Sol!
Oh! Dia com tanta luz!
Meus braços erguidos pus,
saudando o arrebol.
As aves multicolores
aclamavam mais um dia
com o seu canto à porfia.
E agora os meus amores?

Aceitando o que foi dito,
O cuidado em mim assente
resolvi torná-lo ausente
p’ra fugir ao lar maldito.
Mas pensando na “Senhor”,
ficaram no esquecimento
dos aflitos o lamento.
Vou servi-la inda melhor.

Comparação
Na candeia não há luz
se faltar o alimento.
Mas a chama já reluz
se lhe dermos o sustento.
Comigo se passa assim:
a ardência do inferno
amor despertou em mim:
serei Vosso e sempre terno.

Fym (fim) (conclusão)
Prefiro, Senhora, então
receber todo o castigo
d’inferno. Seria em vão
Vosso amor para comigo.
Já Vos dei meu coração,
onde encontrareis abrigo.
Aí nasceu a paixão
que esquece todo o perigo.


Observação:
Trova em oitava rima e verso de arte real, segundo os esquemas abbacddc nas 13 estrofes; ababcbcd na “comparação” e abab no “fym”.
No poema é evidente a influência de Dante, Santilhana e Diogo Brandão. Muitas poesias de Diogo Brandão foram inseridas por Garcia de Resende no seu Cancioneiro Geral.
Vocabulário:
Senhor (substantivo uniforme)= amo, patrão, dona, senhora
.
Agostinho Alves Fardilha (o meu pai)
Coimbra


Imagem: almadormecida



ShareThis