segunda-feira, janeiro 17, 2011

Momento de Poesia com Agostinho Fardilha

D.Francisco Manuel de Melo
(1608 – 1666)
Na estrutura das suas Obras Métricas sofre a influência das “Nueve Musas Castelhanas” de Quevedo, figura brilhante de uma grande época da literatura do país vizinho.
            As segundas três Musas de Melodino constituem a sua constibruição poética em língua portuguesa, já que as primeiras e as terceiras “Três Musas” foram redigidas em Castelhano.
            “D. Francisco Manuel de Melo é, em Portugal, a personificação mais acabada da cultura aristrocática peninsular na época da Restauração.
            No “Canto de Babilónia” inspira-se em “Sôbolos rios…, de Camões”.


Vamos recordá-lo em o
Canto de Portugal (Babilónia ou Sião?)



                        I
Sobre as águas do Douro
chega a deserta colónia,
semelhante a Babilónia,
p’ra expulsar gentio e mouro,
alguém perto da Francónia.

                        II
Após luta se assentou,
fazendo a Deus a promessa:
“que vivo como ora estou,
aumentarei e sem pressa
o Condado que ele herdou”.

                        III
O filho colheu do pai
afadigado quinhão:
foi a primeira Sião
mas, prestes, considerai:
vem Bolonha e a união.

                        IV
Morre um rei e outro vem,
seguindo as leis do passado.
Rei, mas tempo se mantém;
o que se vê alterado
é o desejo, porém.          

                        V
D. Dinis nos alumia,
D. Afonso nos aquenta,
mas Rainha, que alimenta
o povo que lhe pedia,
a paz também acrescenta.

                        VI
Rei D.Pedro foi a lua
que a escuridão apagou:
pequena foi a obra sua,
mas foi ele quem fundou
a Babilónia de  rua.

                        VII
Rei D. Fernando traiu
a confiança do povo.
Quiçá amoroso e novo,
pensar não quis ou não viu
qu’amor parte como um ovo.

                        VIII
A ínclita geração
ditosa e louvada seja,
criada por D.João
ao reino foi benfazeja,
como divinal Sião.          

                        IX
Perante forte nobreza
Afonso V cedeu
e confusão acendeu.
Inseguro, com certeza,
reino no escuro meteu.

                        X
Grande rei, forjaste logo
leis que nobreza moleste.
Contigo e em desafogo
vivemos e até nos deste
a visão do Mundo, em jogo.

                        XI
D.Manuel venturoso
por Oriente esventrar:
abastança vai tirar,
mas se parece mimoso,
ditoso não terá par.

                        XII
A riqueza tem seus ramos
que a peso fazem dobrar:
D.João e os nobres amos
não souberam colocar
às despesas os açamos.

                        XIII
Sebastião, rei insano (?),
guerra incerta originou:
malvados quem o forçou
a tão acto tresloucado
que o país arruinou.

                        XIV
Triste tempo fraudulento
donde todo mal emana:
nós fizemos de jumento,
Espanha, de bom sacana.
Custou, mas foi fermento…

                        XV
A vontade da Nação
encarnou o pensamento
pelo afortunado advento
do mui nobre D.João,
regressando o entendimento.

                        XVI
Ao que escrevi sou fiel:
houve, sem qualquer desdém,
mais confusão de Babel
do que Sião de Belém
ou Jerusalém de Abel.

Vocabulário:
Babilónia =Babel, grande confusão
Sião = Jerusalém  sagrada, paz e progresso
aquentar = animar
mimoso = débil
bom = grande
Abel – irmão de Caim


            Agostinho Alves Fardilha (o meu pai)
Coimbra

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