segunda-feira, outubro 25, 2010

Momento de Poesia com Agostinho Fardilha

Poesia do Século XVII

A Poesia Lírica Cultista e Conceptista

O cancioneiro barroco: A “Fénix Renascida” e o “Postilhão de Apolo”





Prosseguimos a “viagem” com o poeta

D. Tomás de Noronha





A uma beata arrebitada


Endechas


Por que foste à Igreja,
“setentona” esguia?
P’ra que alguém te veja
e diga qu’és pia?


Queres devorar
algum mocetão?
P’ra ti a olhar
está um barão.


É velho qual tu:
procura um amparo.
Não é um gurú,
mas um bife caro.


Olhas com desprezo
e no teu pescoço,
que o pões bem teso,
eis grande caroço.


Olhou e fugiu,
temendo saísse.
O rosto encobriu,
t’arrenego, disse.


Não és peixe fresco
como o apregoas.
Nem és um refresco
p’ra goelas boas.


Bem vestida andas:
saia de veludo,
casaco de bandas,
sapato bicudo.


A cara com rugas
é grande tormento.
Mas, se as enxugas,
usa bom cimento.


Queres um conselho?
Mete no toutiço
que é melhor ser velho
do que ser derriço.



Vocabulário
caro = desejado
derriço = chacota
gurú = espécie de peixe


Foto : internet

Agostinho Alves Fardilha (o meu pai)
Coimbra

ShareThis