Poesia do Século XVII
A Poesia Lírica Cultista e Conceptista
O cancioneiro barroco: A “Fénix Renascida” e o “Postilhão de Apolo”
Prosseguimos a “viagem” com o poeta
D. Tomás de Noronha
A uma beata arrebitada
Endechas
Por que foste à Igreja,
“setentona” esguia?
P’ra que alguém te veja
e diga qu’és pia?
Queres devorar
algum mocetão?
P’ra ti a olhar
está um barão.
É velho qual tu:
procura um amparo.
Não é um gurú,
mas um bife caro.
Olhas com desprezo
e no teu pescoço,
que o pões bem teso,
eis grande caroço.
Olhou e fugiu,
temendo saísse.
O rosto encobriu,
t’arrenego, disse.
Não és peixe fresco
como o apregoas.
Nem és um refresco
p’ra goelas boas.
Bem vestida andas:
saia de veludo,
casaco de bandas,
sapato bicudo.
A cara com rugas
é grande tormento.
Mas, se as enxugas,
usa bom cimento.
Queres um conselho?
Mete no toutiço
que é melhor ser velho
do que ser derriço.
Vocabulário
caro = desejado
derriço = chacota
gurú = espécie de peixe
Foto : internet
Agostinho Alves Fardilha (o meu pai)
Coimbra