segunda-feira, novembro 02, 2009

Trovas



“Quem, neste mundo, amou de mais, terá, no outro, cuidados dobrados”.
Será assim?
Era uma noite d’inverno,
do céu a chuva caía,
sibilos da ventania
lembravam gritos d’inferno.
Os males do coração
torturavam minha vida.
Tinha a mente adormecida
ou todo o “eu” em acção?

Ignoram o que aconteceu:
às cavernas fui parar,
Cérbero pôs-se a ladrar,
por sorte a mim não mordeu.
Não ouvi aves canoras,
porém, brados de serpentes;
ouvi choros de inocentes
por suas progenitoras.

Adormecido no antro
o monstro de três goelas,
transpus às apalpadelas
um rio e ouvi longo pranto.
Em vez de rósea manhã
o fogo rompia o escuro;
de enxofre havia um monturo,
donde reinava Satâ.

O que mais me comoveu?
As almas sempre a berrar,
o sofrimento a aumentar
e o fogo nunca cedeu.
Embora atemorizado,
mas num acto de coragem
usei desta linguagem:
porquê tanto condenado?
(Continua)

Agostinho Alves Fardilha(o meu pai)
Coimbra

Foto:iupui.edu

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