quinta-feira, abril 18, 2013

Momento de poesia com Agostinho Fardilha


Guilherme de Azevedo
(Guilherme Avelino Chave de Azevedo)
(1840- 1882)

“Encarnou, como poeta, o novo “ realismo” citadino do satanismo baudelairiano.
No ano de 1871 funda um jornal, o ALFAGEME, no qual defende as ideias revolucionárias da Comuna de Paris, o que provoca um escândalo. Esse seu espírito revolucionário aproxima-se então da Geração de 70 na fase do grupo do Cenáculo e das Conferências do Casino. Fez uma importante carreira de jornalista, impondo-se também como poeta, com a publicação de A ALMA NOVA, obra dedicada a Antero de Quental.
Analisando a sua obra juntamente com as ODES MODERNAS de Antero e A MORTE de D. JOÃO, de GUERRA JUNQUEIRO, podemos considerá-lo criador de uma” revolução sentimental”, enquanto JUNQUEIRO seria criador de uma” revolução moral” e ANTERO de uma “revolução religiosa”.
Na sua obra de poeta exprime um certo realismo, pretendendo “colher a flor do realismo nas coisas triviais, com marcas de parnasianismo e já pré – simbolista, de que  Cesário Verde será o mais genial criador.

Recordemo-lo com duas composições  poéticas, respeitando a estrutura que utilizava e os ideais que defendia.




                                                                                                                                                                                                                                                                                          I
O meu sonho

Teu olhar me encantou, ó mulher depravada.
Uma vida a dois, sempre feliz, desejei.
Para despedaçar o que resta do nada,
em mim, já odiento fogo alimentei.

Mas oxalá que a morte desfaça esse sonho.
Ele roubou-me a paz como um cruel bandido
faz. De alegre tornei-me num ser mui tristonho.
De mim ou ti a culpa teria partido?

Deveria amarrar este fatal Amor
como fizeram aos réus da negra Inquisição
e depois atirá-lo ao Hades bramador,
onde p´ra sempre vive ódio e maldição.

Parei no tempo e quero ainda recordar
os agradáveis, embora falsos, juramentos
em que me prometias para sempre amar.
Acreditei e assim aumentei os meus tormentos.


II
Ser revolucionário

Dizem que sou revolucionário:
que critico a vivência actual,
considerando-a muito banal
e própria de um ser ordinário.

Respeito pelo igual não é calvário;
auxiliar um pobre é um sinal
da bondade oxalá universal:
revolução moral sem adversário.

Aceito o procedimento moral,
mas este coração quer muito mais:
lealdade: outra ordem sentimental.

Benvinda a alteração religiosa,
acabando com crenças marginais,
limpando a devoção mais nebulosa.


Agostinho Alves Fardilha(o meu pai)
Coimbra



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