terça-feira, outubro 25, 2011

Momento de poesia com Agostinho Fardilha

Cláudio Manuel da Costa

(1729 -1780)



“É considerado o decano dos poetas mineiros e o mais atingido pela repressão à Inconfidência Mineira, pois suicidou-se na prisão. É um precursor pouco feliz do poema heróico brasileiro, mas, paralela e independentemente da Arcádia Lusitana, disciplina em terra brasileira a poesia gongórica num sentido da naturalidade e do enraizamento local que fez escola”.



Prestemos-lhe homenagem com os dois sonetos que se seguem

Mudam-se os tempos…despontam as saudades


I

Ainda jovem abandonei a terra
onde nasci. Recordo os verdes campos,
as cálidas noites por pirilampos
iluminadas; tudo a calma encerra!



E na Primavera? O colorido erra
p’lo suave odor das flores nos escampos.
E as noites cruzadas pelos relampos?
Eles anunciam paz e não guerra.



Já idoso e antes de sair desta vida
resolvi saciar meu coração.
Mas aldeia tinha sido ferida:


mudou tudo, até a fonte, onde irmão
e eu tomávamos a melhor bebida.
Qualquer mudança vale sim ou não?



Vocabulário
Escampo = descampado
Relampo = relâmpago

II





Nos meus verdes anos da mocidade
conheci uma jovem mui prendada,
em cujo rosto estava a Alma espelhada.
Nas conversas não havia maldade.


Elegante, cabelo cor de jade,
boquinha sempre pronta p´ra risada,
mas tanta alegria sempre assisada.
Ouro deste quilate é raridade.


Da terra estive muito tempo ausente.
Regressando, encontrei-a já idosa.
Enrugada, sim, mas graça presente.


A ordem natural é bem custosa
e dela sou vítima frequente:
mudança, não p´ra esta vida penosa.

Agostinho Alves Fardilha (o meu pai)
Coimbra

Imagens:internet

ShareThis