
Uma das tradições do S. João do Porto é a construção de cascatas sanjoaninas.
Segundo o Historiador Hélder Pacheco, as primeiras cascatas no Porto aparecem no século XIX.
Acredita-se que tenham origem nos presépios, que surgiram em Portugal nos finais do século XVIII”. “Antigamente”, explica o historiador, “pegava-se num presépio, substituía-se a sagrada família e os reis magos pelos santos populares e tínhamos uma cascata”.
A figura central da cascata é S. João Baptista e o elemento mais visível, a água.
O Porto em si é uma cascata!
Deixo aqui algumas quadras a S. João
Eu sou a fonte vadia
Dum S. João vagabundo
Que mata a sede à folia
Da maior noite do mundo
Meu balão não é d'espanto!
Não tem vinda, só tem ida,
Leva risos, leva pranto…
Tudo faz parte da vida.
Com tua mão presa à minha
Fui à fonte e não bebi,
estranha sede que tinha
Era só sede de ti!
Ninguém conhece ninguém.
Rusgas, ervas, festas a rodos.
Quando a madrugada vem
Já todos conhecem todos!
Tirou na roda a chinela
P'ra bailar de pé no chão,
Que o fogo que ardia nela
Já lhe queimava o tacão!
Não mandes beijos, amor,
Beijar é face com face.
A água tem mais sabor
Junto da fonte onde nasce.
Por eu ser pobre e tu rico,
Não julgues que o mundo é teu:
Se tu tens o manjerico,
Quem tem o vaso sou eu.
Ninguém se sente sozinho
Na noite de S. João:
O de mais longe é vizinho,
O de mais perto é irmão.
Eu saltei sempre a fogueira
Sem temer ficar queimada
Que a vida passa ligeira
E sem chama é mal passada
És uma fonte de vida
Onde eu sempre quis beber;
Andava a água perdida
E eu de sede a morrer
Deixaste-me só na rua,
Hoje amor, por brincadeira,
E lenha que não foi tua,
Fez-me arder a noite inteira.
As cascatas que fizemos
Em cada nesga de rua
Vão do chão onde vivemos
Até ao balão da Lua.
Fonte : JN
Imagem:internet