
“Toda a vida estudei mais que pude de tudo para o que desse e viesse”, disse de si próprio Vitorino Nemésio.
Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, escritor, poeta e ensaísta, de origem açoriana, era um comunicador nato.
Dedicou-se à televisão, tendo apresentado um programa cultural durante anos, o conhecido “Se bem Me Lembro”. O seu prestígio advém-lhe também do romance “Mau Tempo no Canal” e dos vários livros de poesia que o consagram como um dos grandes líricos do século XX.
Em 1965 recebeu o Prémio Nacional da Literatura e em 1974, o Prémio Montaigne.
Inseri um dos seus poemas.
A concha
A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fechada de marés, a sonhos e a lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.
Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.
E telhadosa de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta pelo vento, as salas frias.
A minha casa... Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.
In “Bicho Harmonioso”
(Foto:internet)