Cláudio Manuel da Costa
(1729 -1780)
“É considerado o decano dos poetas mineiros e o mais atingido pela repressão à Inconfidência Mineira, pois suicidou-se na prisão. É um precursor pouco feliz do poema heróico brasileiro, mas, paralela e independentemente da Arcádia Lusitana, disciplina em terra brasileira a poesia gongórica num sentido da naturalidade e do enraizamento local que fez escola”.
Prestemos-lhe homenagem com os dois sonetos que se seguem
Mudam-se os tempos…despontam as saudades
I
Ainda jovem abandonei a terra
onde nasci. Recordo os verdes campos,
as cálidas noites por pirilampos
iluminadas; tudo a calma encerra!
E na Primavera? O colorido erra
p’lo suave odor das flores nos escampos.
E as noites cruzadas pelos relampos?
Eles anunciam paz e não guerra.
Já idoso e antes de sair desta vida
resolvi saciar meu coração.
Mas aldeia tinha sido ferida:
mudou tudo, até a fonte, onde irmão
e eu tomávamos a melhor bebida.
Qualquer mudança vale sim ou não?
Vocabulário
Escampo = descampado
Relampo = relâmpago
II
Nos meus verdes anos da mocidade
conheci uma jovem mui prendada,
em cujo rosto estava a Alma espelhada.
Nas conversas não havia maldade.
Elegante, cabelo cor de jade,
boquinha sempre pronta p´ra risada,
mas tanta alegria sempre assisada.
Ouro deste quilate é raridade.
Da terra estive muito tempo ausente.
Regressando, encontrei-a já idosa.
Enrugada, sim, mas graça presente.
A ordem natural é bem custosa
e dela sou vítima frequente:
mudança, não p´ra esta vida penosa.
Agostinho Alves Fardilha (o meu pai)
Coimbra
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