quinta-feira, junho 11, 2009

Uma Bimby na boca(crónica de Miguel Esteves Cardoso)


Não minta: há ou não há metade de um bolo-rei na sua vida, neste momento, algures, a olhar para si ou dalguma forma a esperar por si, sem saber o que dele fará?


É a ocasião perfeita para se converter à Gastronomia Mandibular, filha ilegítima de Ferran Adrià e do mítico Pastor-Mastigador-De-Canivete-Em-Punho. Quem não o conhece? É aquele que sucessivamente enfia na boca: pelo canto esquerdo, uma bucha de pão; pelo direito, um naco de queijo e, pela frente - o único acesso que permitem as bochechas distendidas - uma ficha de chouriço. Quando não mais uma clandestina azeitoninha. Finalmente infiltra por uma frecha nos lábios um decilitro de tinto. E logo começa a mastigá-las e a organizá-las internamente ao gosto dele.


Na verdade, todos temos uma Bimby na boca. Com o bolo-rei e um Moscatel faz-se a demonstração. É na boca que se ensopa o bolo com o licor; levando-o ao céu da boca e pousando-o nos molares; fazendo uma cova aqui; separando ali uma passa para degustar; ora reencaminhando um pinhão para ser triturado à parte; ora fazendo uma assemblage de massa de bolo e noz na nave central, para pesar, empapar e saborear antes de ser finalmente passado ao estreito.


A língua é talher, batedeira, Salazar, prato, tabuleiro, balança e mesa de provas. A boca é a cozinha e o cozinheiro. Basta escolher (a dedo) os ingredientes, alinhá-los à sua frente e deixar que a sua Bimby interna faça o resto. Ora eis o autêntico antepassado da cozinha de autor!
Imagem:internet

5 comentários:

Isabel disse...

O que eu já ri!
Tem razão!
Comprei uma!
Será que foi compra desnecessária?

Paula Raposo disse...

MEC sempre fantástico! Como ele tem razão! Beijos.

mfc disse...

Quando me falam em comida... tocam num dos meus fraquinhos!

Just Me...S disse...

Hummmmm...como ia saber bem agora um naco de pão e outro de queijo pequenino mal cheiroso alentejano!!!! :P adooooro!!!

Beijoca doce

Carla disse...

Delicioso, perfeitamente delicioso, quase que cai da cadeira de tanto rir, valeu mesmo. Beijão

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