quinta-feira, setembro 24, 2009

Isto de não ser de esquerda


Os caminhos da liberdade são muitos e misteriosos. Mas talvez só à direita se possa perceber isso. Fui para a direita para ser livre.




Cresci num país "a caminho do socialismo". O governo era de esquerda, os meus pais eram de esquerda, os professores no liceu eram de esquerda, os jornais eram de esquerda, os cantores da moda eram de esquerda, os militares eram de esquerda, os bispos eram de esquerda e até os partidos ditos de "direita" também eram de esquerda (do "centro-esquerda").


Aqueles que viveram nesse Portugal de há trinta anos sabem do que falo. O ar cheirava a esquerda e parece-me que até a comida sabia a esquerda. A sabedoria, o talento e a bondade só podiam ser de esquerda.


A esquerda era o bem. Ser de esquerda era estar salvo, redimido de todos os pecados, isento de todas as dúvidas, dispensado de todas as reflexões. O respeitinho era de esquerda.


Num país assim, era talvez fatal que a perversidade inerente à adolescência me levasse a acreditar que nada do que me fascinava pudesse ser de esquerda.


Henry James, Borges, Nabokov não eram de esquerda. Os Estados Unidos não eram de esquerda. A rapariga mais bonita do liceu também não era, aparentemente, de esquerda.


O que era não ser de esquerda?



Era ler os poemas de Fernando Pessoa sem os reduzir à "expressão da angústia de classe da burguesia". Era reconhecer que o Natal não era quando um homem quisesse ou que o mundo não pulava e avançava como bola colorida nas mãos de uma criança.


Era chamar as coisas pelos nomes e perceber os limites de tudo.


Era aceitar o pluralismo e a contradição como características permanentes da humanidade, e não como imperfeições para serem passadas a ferro pela planificação científica da sociedade. Não ser de esquerda era compreender que Cuba era uma ditadura, ponto final.


Onde tudo começou


Eis como fui parar à direita - um lado que, depois da revolução, era como aqueles descampados entre prédios onde brincávamos em miúdos: um espaço vago, sem organizações, sem hierarquias, sem rituais, sem dogmas, sem líderes. Foi por aí que passei a andar, anarquicamente. Se tivesse nascido noutra época, estaria eu noutro lado? Talvez.



O ano passado, li um texto em que Bernard Henri-Lévy justificava as suas parcialidades políticas. Descobri, sem espanto, que as razões pelas quais ele diz que é de esquerda são precisamente as mesmas pelas quais eu digo que não sou de esquerda, ou, se preferirem, pelas quais eu estou à direita (não digo "ser de direita", porque esse é um ponto de vista da esquerda).



Resumo: ele fez-se de esquerda para ser livre; eu fui para a direita pela mesma razão. Os caminhos da liberdade são muitos e misteriosos. Mas talvez só à direita se possa perceber isso.






Rui Ramos “Historiador”

Jornal i 30/05/2009




Foto:http://gentedefe.com

15 comentários:

Bella disse...

Olá amiga

O teu texto reflecte muitas das dúvidas que imensas pessoas têm... para mim a política reduz-se ao seguinte: meia duzia de camelos que se reunem nas secretas reuniões dos Bilderbergs para proveito próprio destruindo o resto das pessoas... tanto faz ser de esquerda, centro ou direita... a legitimidade das eleições eu ponho em causa mesmo...

Não vou votar por isso mesmo... quem vai governar já foi decidido... a Manuela Ferreira Leite já foi às reuniões... o Sócrates tb... um deles vai governar e como sempre nada vai mudar! O Bush não ganhou as eleições no entanto os Bilderbergs determinaram que ele ficasse... o mesmo se passa com o Obama que conutinua o mesmo trabalho do Bush!

É isso cara amiga a que se reduz a política... Antigamente era um rei, agora são vários camelos banqueiros que mandam (FMI, Reserva Nacional federal, os bancos mundiais, ONU, etc...)

Para saberes mais, pesquisa NWO (New World Order -- Nova Ordem Mundial), os Bilderberg, maçonaria, Illuminati, Opus Dei, 80% mass murder (plano do Kissinger com o H1N1), Daniel Estulin (desmascarou os Bilderberg e corre risco de vida), Alex Jones (desmascarou Al Queda e outras coisa mais), Protocolos dos sábios de Sião...

Bjs

Ana Zuzarte disse...

Olá Elisa
Eu sinceramente é um assunto que não discuto, porque não gosto, nem me interessa, vou votar, porque acho que é um dever, é lógico que tenho as minhas preferências, mas estes gajos são todos farinha do mesmo saco
Bjs
Ana

Paula Raposo disse...

Um texto bastante interessante. Beijinhos.

Carla disse...

Opá mais um texro polemico, vou adorar assistir a este debate aqui no blog, vai aquecer.......Adoro receber "reclamações" quando estou de folga, assim posso vir logo rebater e apagar a "má" imagem que tenho deixado ih ih ih ih nem agradeci o selinho lindo, mas tu sabes a farinha de que aqui o "saco" é feita, sim porque só tu me aturas mesmo longe muito tempo, és uma querida e obrigado por estares ai para me ires "picando". Beijão

Zé Al disse...

Nós que vivemos há trinta anos em Portugal,sabemos bem o foi viver esses tempos(foi mau de mais ). Mas também é verdade que as ilusões que os portugueses durante estes trinta anos para ver um governo ,seja da direita ou da esquerda, que nos dê uma vida que nos orgulhemos de pertencer a esta Europa e ter um nível de vida semelhante ,se tem esgotado e votar já se tornou uma lotaria, "talvez seja desta"!
Bem eu vou tentando até um dia talvez acertar.
Bjs Zé Al

Anónimo disse...

Em relação ao texto não irei argumentar, pois a política é para os políticos. Será mesmo verdade isto que digo? Ou penso que a política diz respeito a todos?
Deixo isto ao critério de quem quiser discutir.
Passo a citar:
«Levantemos com as duas mãos a bandeira da libertação»
«O mundo só será salvo por homens livres»
Que pena haver tanta escravidão!
Que pena haver tanta fome!
Que pena haver tanto egoísmo!
Que pena haver tanta tristeza nos rostos!
Que pena haver tanta desigualdade!
Que pena haver tanta criminalidade!
Mas, como a esperança é a última coisa a morrer tenhamos fé e não deixemos de votar, pois é o dever de todo o cidadão.
O texto de Rui Ramos dá que pensar!!!

peciscas disse...

Este texto mostra uma visão da história um tanto radical.
Eu também vivi esses tempos pós- revolução e não me parece que, apesar de todos os exageros e disparates,tudo o que se vivia então cheirava a esquerda.É um exagero...
E, por outro lado, as pessoas têm que construir o seu ideário sem terem que o justificar, como parece ser o caso do Rui Ramos.
E muito menos se devem construir convicções por oposição a outras.
Ser de direita porque os outros eram de esquerda tem o mesmo valor de ser de esquerda em Abril de 74 porque tínhamos vindo de um longo tempo em que tudo era direita.
Por isso mesmo, a grande maioria dos esquerdistas de então hoje navegam à direita porque as suas ideias estavam coladas com cuspo.
E hoje parece ser um pouco moda, para certos sectores, afirmar que, afinal, se foi sempre de direita.
Resumindo, parece-me, sinceramente, que neste texto existem, subjacentes, muitos complexos não definitivamente resolvidos.
Parece-me muito mais livre e útil dizer o que se pensa sobre a vida, o mundo, o país, sem nos preocuparmos muito se isso é uma visão de direita ou de esquerda. Até porque, quais serão, verdadeiramente, as fronteiras entre um campo e outro?

GRAÇA disse...

Olá!
O teu texto reflete as duvidas de muitas pessoas :uns porque tem memoria curta ,outros porque são pessoas que só veem para um lado outros porque lhes convem mais e outros não tem openiao vao pelo que lhes dizem ou ouv,é pena mas é as pessoas que vivem no nosso Pais.
Bom fim de semana e já agora boa votação.
Bjs
Graça

Ana Zuzarte disse...

OLá Elisa
Amiga passei para deixar uma grande beijoca e desejar um bom fim de semana
Ana

Mena disse...

Olá!
Vim agradecer a tua visita e as tuas palavras gentis.
Este texto dá que pensar e, olha, Rui Ramos tem razão em muito do que diz... Gostei do texto, não conhecia, obrigada por mo teres dado a conhecer.
Deixei-te um miminho e...
Bj
Mena

Bom fim-de-semana!

Lilá(s) disse...

Não gosto de politica, mas este texto dá que pensar...
Bjs

mfc disse...

O raciocínio é inteligente mas nada convincente.
Começa por uma afirmação, absolutamente discutível, que condiciona todo o pretenso discurso racional: fui para a direita para ser livre!
É este o ponto de partida que nos permitem. Um ponto de partida absolutamento condicionado, para quem a liberdade se resume à livre iniciativa, ou seja, a apropriação das mais valias produzidas pelos outros...
Um hotel pode ser muito bem gerido, mas se não tiver empregadas de quartos... nem chega a abrir!
Todavia deve existir a direita, para quem é de esquerda saber e ter a certyeza que está do lado correcto da sociedade.
Um beijo para ti.

Nilson Barcelli disse...

O tema é tão subjectivo como dizer que o amarelo é mais bonito que o vermelho...
Por outro lado, até na prisão se pode ser livre... tudo depende da nossa própria natureza, que é humana... do contexto, da época, enfim, tudo é relativo.
Querida amiga, bom fim de semana.
Beijo.

artes_romao disse...

boa noite,td bem?
mas que post mais interessante e polémico...sim!!
actualmente nas aulas tem debate-mos estes assuntos.
pk tb fazem parte da matéria, mas gosto imenso de trocar opiniões.
tenho a dizer k gostei imenso do bonsai-videira.
fizeste mt bem em partilhar connosco.
bom fdsemana, fica bem.
jinhos***

Adelaide Mesquita disse...

É um texto que nos dá que pensar e se calhar justifica algumas coisas.
Na minha modesta opinião acho que nem deveria haver nem direita nem esquerda mas sim humanismo, altruísmo e seriedade. Já que estamos todos metidos no mesmo barco todos deviam remar para o mesmo lado e em conjunto.
Beijinhos

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