segunda-feira, abril 12, 2010

Momento de Poesia com Agostinho Fardilha


ANTÓNIO FERREIRA


É um dos grandes poetas do séc.XVI; nasceu, em Lisboa, a 1528 e faleceu em 1569.
Toda a sua obra lírica está compilada num volume intitulado “Poemas Lusitanos”.
“É um autor significativo e pode considerar-se o mais completo expositor português quinhentista dos padrões e valores humanos, sobretudo os relacionados com a arte literária”.

Vamos lembrá-lo através de um

Soneto




Éramos jovens e o Amor despontava
como a noite que dá lugar ao dia
e como o maná que do Céu caía.
A nossa paixão em paz vicejava.


Um dia parti, dizendo voltar.
Atrasei-me. Outro Amor a encantou.
Ardo em fogo brando, que a alma inflamou.
Tudo lamenta esta mágoa e pesar.


Embora de idade já avançada,
não esqueço desses olhos o clarão,
palavras que disseste à despedida.


Hoje minha alma chora amargurada,
mas tua doce voz, nunca esquecida,
alimenta a saudade e a solidão.




e de uma


Ode(cívica e laudatória)



Viva, António Ferreira,

cedo Deus te levou.
Tua obra seria valiosa
como a que nos deixou
Horácio. Uma leira
nele semeaste; mais rigorosa
e muito mais formosa
ficou a portuguesa
língua. Nunca usaste o castelhano.
Preferiste à riqueza
coisa mais preciosa:
a razão é útil e não causa dano;
é verdadeiro engano
apenas a coragem
física. Deste valor ao estudo
e à firme aprendizagem,
pondo em segundo plano
a inspiração. Imitar sobretudo
os clássicos em tudo.
Afirmaste que a crítica
ao poeta era uma necessidade;
também a auto-crítica
da obra ao conteúdo.
A negação da mediocridade
e a fé na verdade
por ti sempre apoiadas.
Tiveste a coragem e a ousadia
de dizer às camadas
que era uma brevidade
mudar este tipo de monarquia.
Somos todos iguais na natureza:
no nascer e no morrer, com certeza.
Frente a frente puseste
e sempre defendeste
que a aristocracia do saber
o sangue nobre devia exceder.
És contrário à rima,
que restringe a liberdade do verso;
embora seja assunto controverso,
só isso o tempo encima.
Querias que epopeia fosse escrita;
porém, só com Camões ficou bonita.
Sempre estarei contigo.

Abraça-te este amigo,


Agostinho Alves Fardilha (o meu pai)
Coimbra

Nota: respeitei a estrutura das odes quinhentistas, melhoradas pelo insigne poeta António Ferreira.
Vocabulário:
Camada =população, gente.
Encimar = concluir

Imagens:internet

15 comentários:

Anónimo disse...

Menina seu pai é maravilhoso.
Que postagens mais lindas!!!
Que talento!!!
Parabénsssssssssssss.
Uma linda noite e uma boa semana.
Beijokas

A Magia da Noite disse...

quando o Homem parte fica sempre a Obra.

Lilá(s) disse...

Quem tem pai talentoso quem é?
Bjs

Nilson Barcelli disse...

Querida amiga, é impressionante a qualidade poética que o teu pai conseguiu com este poema.

Boa semana, beijos.

Anónimo disse...

SHALOM! SHALOM! SHALOM!

A minha saudação é muito sincera.
É dirigida ao nosso amigo Sr. Dr. Agostinho.

Confesso que me sinto bastante inibida de momento, devido à "riqueza literária " ( um soneto e uma ode)aqui publicada.

Mas, como me sinto livre ,decidi comentar. É um grande risco, eu sei.

A vida é um aventura!
A vida é um grande desafio!

Fá-lo-ei com todo o gosto e
amizade.

Quando reconhecemos o valor dos nossos escritores,estamos a ser fiéis connosco próprios.
Por isso de cada vez que Agostinho Fardilha nos convida a (re)lembrar os nossos grandes poetas está a ser um homem com dignidade e saber.

O soneto escrito é dum tom coloquial tão transparente, que nos toca profundamente.

A primeira quadra iniciada com o verbo ser e no tempo do imperfeito,
« Éramos jovens»
é surpreendente!
Assim como as comparações que faz
«como a noite que dá lugar ao dia
e como o maná que do céu caía»
e continuando com os verbos no imperfeito
« despontava-caía-vicejava»
faz-me sentir de imediato a "nostalgia" do poeta e
simultâneamente a sua completa "confidencialidade" para comigo.

Sinto o que sente o poeta.
Acho que é nisto que encontramos a beleza da escrita!!!


Na segunda quadra os verbos já são utilizados no Pretérito Perfeito e Gerúndio.
O estado emocional agrava-se e a "confissão"é bem expressa com o reconhecimento total do erro:
«Um dia parti, dizendo voltar.
Atrasei-me. Outro Amor a encantou»


Nos tercetos deparo a sensibilidade do ser humano e a necessidade do apego às coisas boas que nos fazem a todos viver:
«não esqueço desses olhos o clarão»
«mas da tua doce voz, nunca esquecida,»

Há uma cadência impressionante de dor ao longo de todo o soneto.

É bem verdade que a palavra escrita, ensina-nos a escutar a voz humana!

É bem verdade que a poesia nos deve surpreender,pelo seu excesso .

Os sentimentos devem ser exteriorizados. O poeta assim o faz.
Não tem vergonha de o fazer.
Por que há-de o homem ter vergonha de chorar?
Chorar, lamentar, é próprio dum ser humano.
O ser humano é um ser com suas forças e fraquezas; com os seus padrões e valores humanos que António Ferreira fez questão em realçar.

Há três coisas na vida que jamais retornarão:
O tempo-As palavras-As oportunidades


As fotos são uma linda moldura para o singelo e , por isso, rico soneto!

Parabéns, mais uma vez.
Amanhã, farei o comentário à ode,pois tenho mesmo de terminar, por motivo de força maior.

Parabéns, Elisa, pelo talentoso pai!

Cândida Ribeiro disse...

Elisa,

Um lindo soneto e um belo poema de homenagem ao amigo António Ferreira.
Um pai cheio de talento, parabéns.

beijinhos

Savi disse...

Bom dia Elisa
Parabéns amiga por ter a riqueza e a felicidade de ainda ter o seu pai consigo e puder partilhar o seu dia com esse ser humano de uma grandeza e sentimentos que hoje em dia parece estar em extinção.
Beijinhos e mais uma vez os meus parabéns ao poeta Sr.seu pai.
Savi

Paula Raposo disse...

Obrigada por esta partilha maravilhosa!!
Muitos beijos.

lis disse...

Lindo Mlisa
Grandes poetas , Antonio Ferreira e Agostinho Fadilha.
Dois portugueses com visão poética a nos encantar.
Orgulho dos seus filhos e quem como eu adora poesia e adora o olhar de quem declama o amor em versos.
Parabéns filha e pai.
Abraços e carinho

Adelaide Mesquita disse...

Olá Elisa!
Realmente é como eu digo, o teu Pai é fantástico. Merece indiscutívelmente ver publicado o que escreve.
Dá-lhe os meus sinceros parabéns!
Beijão e um para ele também!

João Videira Santos disse...

As palavras tecidas com tal sentimento são como alvorada no despertar dos sonhos...

Gostei muito.

Parabéns pelo post.

artes_romao disse...

boa noite,td bem?
mas esse senhor não pára e isso é fantástico.
muito bom...parabéns.
fica bem,jinhos***

Anónimo disse...

Querido amigo e poeta Agostinho Fardilha.

É notória a sua capacidade de escrita.
Inicia a Ode com um" VIVA".
Uma saudação amiga e cordial à qual todos nós nos aliamos com belo prazer.

Na verdade todos nós temos uma missão a cumprir. Há para quem crê uma obra de arte que nos foi confiada.
De tudo o que fica é o nome e as lembranças acerca das nossas acções.
Não é o que a vida nos dá que nos torna felizes, mas o que nós lhe damos.

O que deu à vida ANTÓNIO FERREIRA?
Um manancial repleto de bela poesia.

O que dá à vida Agostinho Fardilha?
Um grande contributo,prestando a sua homenagem aos seus amigos poetas e permitindo-nos avivar a memória e nos deliciar com sua poesia tão ajustada ao momento.

Merece sem dúvida o nosso agradecimento por tão delicado serviço.

A forma como se dirige ao poeta homenageado
« cedo Deus te levou»
expressa o seu sentido pesar pela sua precoce partida, mas cada um tem o seu tempo e, aqui o importante é que a obra tenha sido escrita com inteira liberdade
«Nunca usaste o castelhano.
...deste valor ao estudo
e à firme aprendizagem»

E retrata-nos o poeta fielmente
«imitar sobretudo os clássicos»
« és contrário à rima,
que restringe a liberdade do verso»
( reconhecimento da atitude do poeta e a sua aprovação)
No entanto não se deixa influenciar e não omite o seu parecer
«embora seja assunto controverso,
só isso o tempo encima»

O final desta Ode é feito com muita subtileza e imparcialidade , não deixando assim de fazer a sua avaliação correctíssima
«Querias que a epopeia fosse escrita ;
porém, só com Camões ficou bonita».

António Ferreira é António Ferreira.
Camões é e será sempre o Poeta por Excelência.
Esta verdade profunda dispensa qualquer comentário,tal como faz Agostinho Fardilha.

Cada um tem o seu valor próprio.
São as diferenças( e estão muito bem assinaladas , nesta ode) que tornam a vida mais bonita e colorida!

Sensibilizou-me a forma como se despede
«Sempre estarei contigo»

«Abraça-te este amigo»

É uma atitude de nobreza reconhecer o valor dos outros e ao mesmo tempo uma demonstração de amizade.

Um Ode muito bem elaborada, conseguindo atingir o objectivo na sua totalidade: deu-nos a ideia don perfil do perfil de António Ferreira.
Parabéns!
Continue a presentear-nos com o seu talento , pois uma boa leitura é um manancial perene de alegria, de paz , de rejuvenescimento.
Beijinhos para Elisa. Uma filha muito sortuda.

mfc disse...

A admiração feita verso.
O respeito pela forma e a fluência do discurso.

fernanda disse...

A foto escolhida também é uma obra de arte!
Centraliza-nos no tempo da escrita manual, mas com uma particularidade muito especial:a mão tem uma elegância e parece que está serenamente escrevendo ao som do piano!
Penso que é uma foto tirada de uma pintura. Esta retrata fielmente a imagem do momento, mas, também retrata o que se não vê, ou seja, o pensamento do escritor.
A posição da mão é duma delicadeza!!!
Quem escreve, escreve com alma.
Sentimos que o homem "aprimorou-se"
Só assim a pintura poderá entrar em comunicação com o observador.

Muitos parabéns pela foto apresentada!

Beijinhos.

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