domingo, março 27, 2011

Momento de poesia com Agostinho Fardilha

Pedro Joaquim António Correia Garção
(1724 – 1772)
“ Nasceu em Lisboa em 1724.É a época do terramoto de 1755, em que o desconforto causado pela catástrofe, a ausência de espectáculos públicos e a transferência de muitas famílias para os arredores da cidade, foram a origem do furor das reuniões caseiras e das pequenas festas com chá, torradas, recitais, bailaricos e modinhas brasileiras.
O século XVIII é o século das Academias ou da clivagem entre os núcleos ou “capelas” literárias, cada uma delas com as suas concepções próprias, a sua maneira específica de encarar o fenómeno poético, mas irmanadas pelo eterno espírito de mesquinhez que, para sempre, passaria a caracterizar as diferentes tertúlias poéticas portuguesas, cada uma delas consciente da posse da verdade última sobre Arte.
Correia de Garção foi escolhido, em 1756, para presidente da Arcádia Lusitana.
Uma das coisas realmente positivas dos árcades foi a tentativa de acabar com a verborreia, cultista e conceptista, e substituí-la pela simplicidade possível ao uso de uma linguagem mais coloquial, o que redundou numa verdadeira reabilitação do real quotidiano.
Garção abre caminhos, que não pareciam muito viáveis à poesia que veio do barroco.
O esforço maior do Poeta orientou-se no sentido de cultivar os géneros greco-latinos, incluindo alguns que não existiam na língua portuguesa, como os ditirambos.
Sob o aspecto da imitação dos antigos, a obra mais célebre de Garção é a Cantata de Dido, moldada sob um passo do Livro IV da Eneida.
O que há de mais interessante neste Poeta consiste na combinação do horacionismo com a poesia quotidiana, que encontramos em alguns sonetos e principalmente nas epístolas.”

Lembremo-lo com 2 sonetos:
I-Amor Fatal
II-A luxúria e a vingança de Júpiter

Obs: a estrutura dos 6 versos finais de cada soneto é diferente, tão do agrado de Correia Garção.

I-Amor Fatal
Destruída Tróia, lá vai Eneias,
com pequena armada, sulcando as águas
do Mediterrâneo. Mas as fráguas
e os ventos atiram-na p’ras areias.

É Cartago e Dido está nas ameias.
No banquete, Cupido afasta as mágoas
e à sexualidade não dá tréguas:
a líbido encanta-os quais sereias.

Fugindo à tempestade, numa gruta
Tornam-se amantes. O amor ata os dois:
vivem de paixão loucos; porém Jove,

com Vénus e Juno, em longa disputa,
ordena que Eneias parta. Depois
Dido a morte busca e a todos comove.

Vocabulário:
Jove= Júpiter (do latim:I(J)upiter, I(J)ou(v)is)


II – A luxúria e a vingança de Júpiter

No Olimpo imperava a devassidão
e a sensualidade. E o maior
e frequente prevericador
era Júpiter, actor desta ficção.

Seduziu, com fortuna, este machão
deusas e humanas, alterando a cor.
Juno, a mulher, tinha-lhe rancor,
que medrou quando assistiu ao beijão

deixado na boca da filha Vénus.
Outrora quis, mas não enganou Dido.
E agora, com Eneias, muito menos.


Os fados, então, inventou o bandido,
arrojando um p’ra longe; outra, aos infernos.
Que fado p´ra ela e p’ro seu querido!

Vocabulário:
Cor = aparência
Fado= destino, sorte

Fotos:internet

Agostinho Alves Fardilha(o meu pai)
Coimbra

16 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns aos dois poetas.

Abraço.

AA.

António Faria disse...

Como sempre, soberba homenagem ao poeta.

Abraço.

mfc disse...

Porque é que os deuses de então (e os de agora, nunca se deram bem com o amor entre os terrenos?!)
Assim deixam de serem deuses, porque perderam a magnanimidade!

Lilá(s) disse...

Estão de parabéns os dois poetas e quem fez a escolha...
Beijinhos

Carla disse...

Viva linda, vim aqui a correr só para dizer que recebi os beijos enviados ai de cima, obrigado. Eu gostava mesmo é de a ver aparecer com a Milai num destes almoços, acho que ia adorar. Beijão e boa semana

Néia disse...

Oi querida...
Cada vez que passo aqui sei que vou encontrar curiosidades e cultura da boa. Hoje não foi diferente...
beijos e uma ótima semana com paz e muito amor neste coração

Anónimo disse...

Parabéns Elisa !!
Belas escolhas .

beijos

Emília Pinto disse...

Oi Lisa!
Sou pequena, para tão grande postagem.Aprecio e gosto!
Parabéns a seu Pai e a si pela bela escolha .
Até breve
Herminia

Bergilde disse...

Linda homenagem e quem bom que pude conhecer aqui.Abraços e boa semana pra você!

lis disse...

Excelente texto do Sr.Agostinho.
Gostei de saber algo sobre esse poeta e da sociedade literária que ele fazia parte.
Anotado pra pesquisar mais sobre ele ,
pareceu-me dificil encontrar mais sobre a sua Obra ,
obrigada pelos dois sonetos
( tempo que se valorizava as rimas)

abraços aos dois pai e filha
beijinhos

artes_romao disse...

boa tarde,td bem?
tudo maravilhoso como sempre...parabéns.
agradeço imnenso a tua visita;)
fica bem,jinhos***

Perola disse...

Parabéns ao teu pai,belo ver como vc posta os versos dele com carinho.
Muito lindo!!!
Beijos minha linda!!!

Graça Pereira disse...

Aula de Literatura, belissima! Poesia cinco estrelas e saímos daqui com vontade de querer mais.
Obrigada a todos.
Beijo e boa semana.
Graça

Mariz disse...

E parabéns aos dois poetas, sempre encontro belíssimas aulas qdo venho aqui e parabéns à vc tb.


mil beijos!

Anónimo disse...

AMOR FATAL

Como sempre um título muito bem escolhido.

Diria que quanto mais caminho, mais terei que caminhar.
O caminho nem sempre é seguro ,pois os imprevistos surgem quando menos se conta

« ...Mas as fráguas
e os ventos atiram-nos p'ras areias.»

Que "simplicidade" de expressão nestes dois versos, mas traduzindo a pura realidade.

Para quê sermos complicados?

Na segunda estrofe a simplicidade se inverte com a complexidade do ser humano

«...afasta as mágoas»

Por ventura, existirá alguém que nunca tenha tentado " afastar as suas mágoas?

É o quotidiano da vida:lutar para vencer.

Mas o homem é um ser forte ,mas fraco, logo ,

«...à sexualidade não dá tréguas.»

Esta forma de escrever , tanto nos aproxima!

Consigo ver e sentir a tempestade e imagino-me a fugir.

«fugindo à tempestade...»

Por quantas tempestades passámos já?
E por quantas teremos ainda de passar?

E no meio da tempestade ,quantas vezes encontramos o que necessitamos (Amor)?

«...O amor ata os dois:
vivem de paixão loucos;»

Mas nem sempre esse amor é aceite pelos deuses...
O amor louco tem sérias consequências.
Oh! se tem!!!

«Dido a morte busca e a todos comove»

Não é esta a realidade que enfrentamos?
Tantos amores loucos!
Tanta morte de causa passional!
Não é isto, que infelizmente, assistimos no nosso dia a dia?

Homenagem correcta e digna de elogio.

É na simplicidade que está a verdade.
Este poema é um exemplo.

Devo cumprir o meu dever agradecendo esta homenagem.
Agradecer é um acto de civismo.
Obrigada Agostinho Fardilha!
Parabéns!
Parabéns para Elisa.Teu pai continua a demonstrar uma grande veia poética!
Beijinhos.

Anónimo disse...

Quantos deuses são adorados?!
Quando cairemos na conta que estes deuses nada nos trazem?
Estamos em Quaresma.Tempo de reflexão.Tempo de reconhecimento das nossas faltas para com um DEUS supremo.
Como sempre um tema seleccionado com muita perspicácia:

"A luxúria e a vingança de Júpiter"

O poema é iniciado duma forma globalizante:

«No Olimpo imperava a devassidão»

Caio na conta que também o governo (um Olimpo!) se encontra devastado.
Quando este"Concílio" cairá na conta que está na hora de deixar todos os deuses imperar no nosso país?
Tantos deuses!o dinheiro, a riqueza, a vingança, a ganância...etc.
As pessoas abusam do seu poder! Sofremos seriamente pela constância do poder absoluto.


«e frequente prevericador»

Tantos males estamos a sofrer!
Está na hora de tomar consciência do responsável da nossa miséria.

«era Júpiter, actor desta ficção».

Júpiter um deus que era adorado.
Usou e abusou do seu poder.

As tentações dos homens são imensas!

«Seduziu, com fortuna, este machão»

A vida é breve.Quando dermos conta já

«deusas e humanas ,alterando a cor».

E o mal se arrasta e as consequências advêm

«Juno, a mulher, tinha-lhe rancor,
que medrou quando assistiu ao beijão»

Toda a luxúria caduca, mais tarde ou mais cedo

«Outrora quis, mas não enganou Dido.
E agora , com Eneias ,muito menos».

Tudo tem um principio e um fim.
Todos pagarão pelos seus abusos.

«Os fados, então, inventou o bandido,
arrojando um p'ra longe; outra ,aos infernos».

Esta é a lei da vida.
Existe só um DEUS a quem devemos adorar e a Quem tudo devemos
As coisas caducam!
A vida é breve!
O tempo passa veloz!
Os prazeres são passageiros!
Se não tivermos isto em conta haverá um destino triste como diz o poeta:

«Que fado p'ra ela e p'ro seu querido!»

Não à luxúria!
Não à vingança.

Estamos na altura de rever o que está mal ou menos bem.
Reconheçamos que somos vítimas das paixões e dos prazeres.
Não haverá nenhum "deus" que nos salve!

Só o Deus do Amor deverá ser o nosso estandarte.

Esta homenagem tão bem realizada encaminhou-me para a reflexão .
Agostinho Fardilha, como grande poeta tem sempre um objectivo a atingir.
Prende o leitor e leva-o a tirar conclusões.
Eu penso assim.E que bem me faz!
Parabéns para sempre.
Obrigada pelo seu contínuo empenho de escrever.
Bem haja!
Parabéns Elisa, pois bem o mereces.

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