segunda-feira, abril 18, 2011

Momento de poesia com Agostinho Fardilha

Paulino António Cabral de Vasconcelos
(Abade de Jazente)
(1719 – 1789)

“ Natural de Amarante, foi Abade em Jazente e frequentou os círculos sociais e mundanos da burguesia portuense, incluindo uma Academia Portuense que reunia no paço episcopal do Porto.
O Abade de Jazente, padre e anti – ultramontano, inclui na “áurea mediania” e no epicurismo horacianos a amizade pelos seus cães de caça e as efemérides das suas aventuras eróticas. Mas o que há mais de vivo na sua obra é o diário da sua própria vida íntima, referindo-se à sua amada ou pedindo a morte para fugir à velhice caquéctica e à doença.
Sem atingir o ofício e a amplidão temática de Nicolau Tolentino, mais novo uns anos que o poeta de Amarante, deve ser considerado, todavia,um dos grandes poetas satíricos da nossa literatura, um agudíssimo e filosófico observador dos costumes da burguesia nortenha.”

Honremo-lo com 2 sonetos:
I-A insconstância do amor juvenil
II-“Carpe diem”…(goza a vida o melhor possível, porque ela é curta)


I-A inconstância do amor juvenil

A esse ovo matizado que  fizeste
Ó querida, encanto dos olhos meus?
Descuidada, estorcegaste os pés teus:
Caíste, partiu-se e tenção desdeste.

Comprámos um balão azul celeste,
mas alheios ao ar e aos escarcéus,
prenhe de mais, roçando nos ilhéus,
estoirou; Cupido a fugir foi preste.

Saltam as fogueiras de S.João
enlaçados os dois. Mas as orvalhadas
tudo apagam e lá vai mesmo a afeição.

O amor, na juventude, alfinetadas
sofre às vezes: tal ovo a ir ao chão,
do balão e das fogueiras, risadas.

Vocabulário:
Tenção=intenção
Desdar=desfazer
Ilhéu= rochedo no meio do mar

II-“Carpe diem…”

Se fores ao Porto, ouve o meu conselho:
saboreia as tripas e as gostosas papas
de sarrabulho. Não  e’squeças de natas
o bacalhau e o pernil já vermelho.

Vai , amigo, mesmo que doa o artelho,
à Foz do Douro e aprecia as lapas,
outrora – dizem – alimento dos trapos.
Come à vontade. Ainda não és velho.

Não irás beber água, com certeza.
Prova o puro verdinho de Amarante.
No fim, verás ser pequena a despeza.

Vida curta, sim, mas nela és migrante.
Prepara teu futuro com destreza,
sendo do corpo o espírito mandante.

Vocabulário:
Lapa= molusco
Trapa= trapista (membro de ordem monástica)


Fotos :internet

Agostinho Alves Fardilha (o meu pai)
Coimbra

12 comentários:

Anónimo disse...

Bela homenagem a um poeta que se destacou pela ligeireza de grande parte dos seus poemas.

Abraço.

AA.

Isabel disse...

Desconheço o poeta.
Gostei dos sonetos em sua homenagem,particularmente do segundo.

Beijos.

Mariz disse...

Dois poemas belíssimos e linda homenagem, para começar uma semana maravilhosa.

beijos mil e um dia ótimo prá vc!

Rita disse...

Amei!
Bj para ti e para o talentoso papá!

Lídia Borges disse...

Quanta poesia e boa disposição por esse país fora. E no entanto tão desconhecida.
Contra mim falo que não conhecia o poeta e muito apreciei este momento, aqui.

Um beijo

Adelaide Mesquita disse...

olá Elisa!
O teu Pai nunca deixa de me surpreender agradàvelmente.
Um beijo para ele com os meus sinceros
parabéns!
Bj
Milai

Maria Luisa Adães disse...

Ligeiro, simples e belo esse poema,

parabéns ao Poeta e Páscoa Feliz para todos.

Com ternura agradeço a visita ao meu poema.Um beijo,

Maria Luísa

Bergilde disse...

Aprendendo sempre que venho aqui.
Feliz Páscoa para você e seus caros!

Mar Arável disse...

... ainda bem que há sempre um abade desconhecido

levantado do chão

Lilá(s) disse...

Boa mesmo!"estou gozando a vida o melhor possível"...
Bjs

mfc disse...

Apreciei os dois sonetos, mas ficou-me o olhar naquele lindo roteiro gastronómico do Porto.

xinoca disse...

Uma vez mais te agradeço o dares a conhecer a bBELA POESIA do nosso PAI.
Bjs

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