quinta-feira, novembro 10, 2011

Momento de poesia com Agostinho Fardilha

Tomás António Gonzaga

(1744 – 1810)



“Nasceu na cidade do Porto em 11 de Agosto de 1744. Tendo passado a meninice em terras do Douro, teria acompanhado o pai, em 1752, quando foi exercer funções de ouvidor – geral em Pernambuco.

Em 1 de Outubro de 1763 encontramo-lo matriculado na faculdade de Leis, em Coimbra.

Gonzaga ia entretendo os seus ócios de magistrado no cultivo da poesia.

O grande amor foi-lhe inspirado por uma menina de 15 a 16 anos, D. Maria Doroteia Joaquina de Seixas, da melhor sociedade vila –riquense, que conheceu pouco depois da sua chegada.Marília, como Gonzaga passou a chamá-la nos seus cantares, era uma das filhas do capitão João Baltazar Marinque, homem abastado e de boa família.

Tomás Gonzaga, tendo sido acusado como o chefe principal da Inconfidência Mineira, foi metido numa lúgubre masmorra da Ilha das Cobras. Depois de longos meses de cativeiro, era condenado a 10 anos de degredo para Moçambique.

A história de Gonzaga em Moçambique tem andado rodeada de romântico mistério. Dizia-se que o pobre poeta, ausente de Marília, tinha perdido o  juízo e andava como um sonâmbulo pelas ruas.Nada disso.

Uma vez no exílio, Gonzaga deitou contas à sua vida. Nunca mais Marília lhe pertenceria. Casou com uma senhora de muita fortuna, tornando-se numa das principais pessoas da cidade, que habitava.

A poesia de Gonzaga, além do seu valor intrínseco, porém diminuído por algumas debilidades de forma e inspiração, documenta bem a passagem do classicismo para o romantismo. Causam-nos hoje e fazem-nos sorrir as constantes citações dos deuses, a sua impertinente imiscuição nas coisas da vida real. Descreve em belos versos a sua situação tristíssima; mas, por muito sentida que fosse a dor, dificilmente dispensara o ornamento clássico, a alegoria mitológica.

A sua poesia é suave e tem um cunho de acentuado realismo, concepção burguesa e democrática da vida”.



Vamos recordá-lo com várias estrofes, respeitando, dentro do possível, a diversificação da rima e da  métrica por si usada.



Petições





suplicante – Elisa
dispensador – Pai Santo e Eterno/ Apaixonado ignoto
 

(I)
Sonhei que , pastora, levava o gado
para verdes prados, onde o meu Amor,
de rosto alegre e pelo Sol tisnado,
p’ra mim a flauta tocava a primor.
O seu afecto toda a mágoa cura;
dos seus olhos irradia luz divina.
Deslumbrada estou com a minha sina.
A quem devo tanta paz e ventura?
Graças ao Criador,
graças ao meu Senhor!


Corremos para a sombra da floresta,
sempre aconchegada pelo seu braço;
aí dormi reconfortante sesta,
tendo por travesseiro seu regaço.
Restantes pastores e seus namoricos
nas moitas folgavam às escondidas;
suas conversas eram tão queridas
que indago: porquê d’amor assim ricos?
Graças ao Criador,
graças ao meu Senhor!

(II)
Cupido, para os poetas,
é um rosado menino
nu, com aljava de setas.
Brincando, acertou nos dois:
Eu e tu, prendada Elisa,
de paixão somos feridos:
de coração tão unidos
para sempre minha sois.


Mas Cupido é traiçoeiro
às vezes com suas manhas;
até de Apolo é coveiro
e de muitos humanos seres,
não respeitando as idades.
Em tudo não somos iguais,
mas amor nunca é demais,
basta tu sempre o quereres.

(III)
Elisa, teus olhos
foi primeira farpa
que rasgou meu ser.
São como os sons da harpa
que me alegram a vida.
Eles até dizem:
eis tua guarida!


Quando vi teus lábios,
deixei de falar.
Meu corpo tremeu
e a cambalear,
o chão por jazida.
Eles até dizem:
eis tua guarida!

(IV)
Recordas, Amor,
ao nascer do Sol,
Natura acordava
com o arrebol?
Esfregavas os olhos
para ver melhor
e louvar a cor
desta maravilha
que todos encantou.
Em tudo és a mesma,
porém, eu não sou.
Elisa, tu pedes?
Aguarda que eu dou.

Deus  Vulcano e Vénus,
felizes tais nós?
Ele amava festas.
Tu e eu, a sós,
jurámos a fé.
Lembras-te das tardes,
que, isentos de alardes,
promessas fazíamos?
E quem te beijou?
Em  tudo és a mesma,
porém, eu não sou.
Elisa, tudo pedes?
Aguarda que eu dou.


Agostinho Alves Fardilha (o meu pai)

Coimbra

Foto: internet

13 comentários:

Anónimo disse...

Soberba homenagem ao poeta árcade apaixonado.

Abraço.

AA.

António Faria disse...

Irrepreensível!

Abraço.

mfc disse...

A irrepreensibilidade da forma e a escolha terna do nome pelo pai...!

Emília Pinto disse...

Gostei muito de saber algo mais sobre este nosso poeta. Muito obrigada pela partilha. Adorei os teus anteriores " olhares", o da sombra que está magnífico e nos faz repensar nas nossas atitudes; nunca estamos sozinhos e por isso temos uma grande responsabilidade para com o nosso eu e para com os outros; aquelas cruzes representam o cemitério onde gostaria de ter a minha última morada; já sei que não vai ser assim, mas um imenso jardim só com uma cruz seria o ideal; afinal nesse lugar somos todos iguais e por isso não me agradam aqueles onde as desigualdades ainda se fazem notar.Mesmo aqui, o homem continua a achar que há seres humanos de 1ª e de 2ª. Que pena! Um beijinho e parabéns pelas fotos e pelos trabalhos maravilhosos do teu pai, Até breve!
Emília

Anónimo disse...

diz...diz prá mim,
onde se escondeu...
em que lua vai voltar...
em que sonho, volte logo anjo meu.

(Markinhos Moura)

Amor & Poesia na sua noite...M@ria

Anónimo disse...

Se sabemos "que nada acontece por acaso", aqui está uma prova bela e comovente neste trabalho do nosso ilustre poeta Agostinho Fardilha que não há que ter dúvidas.
Hoje, dia de S. Martinho.
Quem não conhece a sua história?!
E ...com a sua espada cortou a sua capa a meio e deu metade ao mendigo encontrado.
Em troca desta generosidade o nosso Deus quis revelar-se. Nenhum dos nossos gestos para com o próximo, deixará de ser recompensado.
Assim o céu carregado de nuvens se transformou e um Sol brilhou .
É o chamado SOL de S. MARTINHO que ainda hoje atribuímos.
Hoje, também temos razão para não esquecermos este dia.Já repararam?
11 /11 / 2011

Muito mais razão há quando detetamos o nome de ELISA.

Ai o poeta que é uma constante revelação!!!
Muito digna a atribuição!
Muita sensibilidade paternal!
Muita sabedoria!
Muito amor filial!

Com pena ,ficarei por aqui.
Terei de ler e reler este poema que muito me comoveu.
Parabéns!
Eu volto em breve.
Um abraço para ELISA.

Lídia Borges disse...

Muito interessante todo o conjunto
que homenageia e divulga simultaneamente.

Um beijo

BlueShell disse...

É impressionante a quantidade de informação que levo comigo de cada vez que aqui venho.
Obrigada.
BShell

Bergilde disse...

Mona Lisa,
Abraço e desejos de bom fim de semana pra ti aí!
Trazem sempre muito aprendizado os seus posts que reportam os grandes nomes da literatura portuguesa,obrigada por mais um!

Just Me...S disse...

Um poema extraordinario!!!! Amei!!!

Beijinho muito grande

PS: não tive coragem para mais ;) no FB podes ver a foto de frente hehehehe

lis disse...

Oi MElisa
Maravilha essa participação do Sr.Agostinho não só o pai da Elisa mas um excelente poeta e escritor e quando ele vem é sempre com uma cuidada e especial edição.
Um nome lembrado por aqui,o de Tomas Antonio Gonzaga e o poema é
lindíssimo.
Gosto de ler sobre aqueles que fizeram história.
um abraço aos dois e obrigada pela hora poetica que nos proporcionou.
um bom domingo

Lilá(s) disse...

Parabéns ao poeta!
Bjs

Anónimo disse...

Olá, aqui estou eu também numa atitude de agradecimento ao Deus criador do universo.
O poeta conduz-me à meditação e eleva a minha alma .Por isso eu rezo:


«Graças ao Criador,
graças ao meu Senhor!»

Se sonhar nos leva a sentir a tranquilidade e a alegria porque não fazê-lo?

«Sonhei que .....................
p'ra mim a flauta tocava a primor.
O seu afecto toda a mágoa cura;

O amor é belo.
"O amor é fogo que arde sem se ver".

Viver sem este "mágico instrumento" na nossa vida tornar-nos-íamos em máquinas produtoras de tudo mas sem qualquer qualidade.
Oh! mundo que deixaste de sonhar!!!
Se o Criador nos deu capacidades, porque não as pomos à prova?
Se o que somos é um presente de Deus e no que nos tornamos será o nosso presente para Ele, vivamos no mundo com AMOR que tudo cura, tudo perdoa, tudo esquece.
Assim

«Corremos para a sombra da floresta,
sempre aconchegada pelo seu braço»

Vivamos de sonhos!
Sonhos que poderão ser realidade;
Sonhos que poderão ficar na alma ,sem nunca serem concretizados;
Sonhos que me ajudarão a viver;
Sonhos que me tornarão mais humana, Transformarei o meu sonho numa ventura para os que me rodeiam.
Isto, não será uma realidade???


Talvez pudéssemos indagar como faz o nosso poeta e cair na conta...

«que indago:porquê d'amor assim ricos?

Não nos queixaríamos tanto!
Não pediríamos tanto!
Não nos sentiríamos tão perdidos!
Não embarcaríamos no barco de aprender a ganhar a vida e a não saber viver a mesma vida!
Mas sim pensaríamos mais no que temos e não no que não temos.

Então a toda a hora nos dirigíamos a Deus

«Graças ao Criador,
graças ao meu Senhor!»

Toda a criatura tem razões para agradecer e reconhecer os presentes que lhes são dados ao longo da sua caminhada ,mas também as dores(sofrimento) que fazem crescer e amadurecer o nosso ser.

O poeta cai na conta:
- do grande presente que lhe foi dado

«Eu e tu, prendada Elisa;
...de coração tão unidos
para sempre minha sois.»


- do sofrimento, da realidade da vida

«de paixão somos feridos:»

"Para nascer é preciso morrer."
É uma verdade que poucas vezes tomamos a sério ou negamos esta atitude a ter quando tudo deve florescer.
O grão de trigo é lançado à terra para dar vida.
Realidade "dura"?Não.
Realidade que muito nos ajuda a entender o Mistério do Amor.
Morrer para viver.
Morrer para tudo que nos aprisiona e nos atormenta .

«Elisa, teus olhos
foi a primeira farpa
que rasgou meu ser.»

O sofrimento e a vida que tão bem jogam nesta poesia!É admirável este quadro!

«São como os sons da harpa
que me alegram a vida»

A morte e a vida.
O drama da vida.A verdadeira visão da realidade.
Não não há outra forma de ver o mundo.

Elisa o amor do poeta.
Amor tão vivo e tão real.
Amor incondicional

«mas amor nunca é demais,
basta tu sempre o quereres.»


Amor que nada consegue apagar, mas sim que aviva a memória das promessas feitas

«...promessas fazíamos?»

A vida não é como uma sinfonia?
Sons graves e agudos compõem a nossa estrada.

A música purifica a alma

«E quem te beijou?
Em tudo és a mesma,»

Enquadramento perfeito dos sons!!!
Mas nem sempre "o músico" se sente bem

«porém , eu não sou.»

«Graças ao Criador,
graças ao meu Senhor.»

Se na vida passamos uma só vez, é motivo mais que suficiente para fazermos tudo que estiver ao nosso alcance para atingirmos a felicidade.
A FElICIDADE é proporcional.

"Um beijo e um abraço podem curar uma ferida, quando se dão com toda a alma".

Poeta Agostinho Fardilha, muito obrigada pelo seu belíssimo trabalho.
PARABÉNS!
Parabéns ELISA!

Permita-me que deixe esta mensagem, pois assim me levou a senti-la:

-DEDICA O TEMPO PARA AMAR.

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