quinta-feira, março 04, 2010

Eugénio de Castro nasceu a 4 de Março de 1869

Recordo-o transcrevendo um dos seus poemas.



Casas Abandonadas



Casas abandonadas,
Casas sem moradores!
Já não marulham ondas de seda pelas escadas,
E as ervas no jardim abafaram as flores…

 
Os lagos do jardim são olhos cegos…
As salas vazias parecem maiores…
E nas paredes nuas os pregos
Lembram as espadas da Virgem das Dores…

 
Um espelho esquecido, congelado oceano
De tons sombrios, palustres,
Memora com saudade a voz extinta do piano,
E a inquieta irradiação das jóias e dos lustres…

Ao pé duma varanda, onde se abrem martírios,
Jaz no chão uma rosa, e junto dela
Cartas rasgadas: lírios
Chorando a morte duma donzela…


A poeira sucedeu aos tapetes, e tudo
Exala um ar de desconforto envergonhado…
- Ai das que um dia se vestiram de veludo
E agora não têm calçado!


As paredes, o chão, as portas e as janelas
Tudo relembra o dia de ontem, alegre e claro…
- Ai das que foram ricas e belas,
E que hoje são viúvas pobres, ao desamparo!


Em vez dos risos infantis, as ladainhas
Do vento! O repuxo é um cisne a cantar…
- Ai das Rainhas sem corte, das destronadas Rainhas,
De porta em porta a mendigar…


Da casa o coração chora com frio…
Pobre mãe! Seus filhos a deixaram só!
E ora quer ficar nesse amargor sombrio,
Pensando nos que , um dia , abalaram sem dó,


Ora apetece novos moradores
Em cujos sorridentes
E discretos amores
Possa esquecer os que se foram indiferentes…


Casas abandonadas,
Onde as noites são frias, e as manhãs
Pálidas! Casas abandonadas,
Minhas irmãs!


Eugénio de Castro


Foto minha

18 comentários:

Maria Cusca disse...

Lindo o poema e linda a homenagem!
Parabéns.
Jinhos grandes

AFRICA EM POESIA disse...

LINDO POEMA
deixo com carinho

amor e Paixão
Poucas palavras mas a magia que elas encerram
Com um beijo


AMOR E PAIXÃO


Amor e paixão...
Duas palavras lindas...
Que se completam...
Que dão as mãos...
Que se irmanam...

E as duas juntas unem-se...
E são felizes...
Mas nem sempre...
As duas estão unidas...

E de costas voltadas...
São algo que magoa...
E que nos faz doer!...

LILI LARANJO

Ana Zuzarte disse...

Olá Elisa
Que Bela homenagem
Adorei este Poema
Beijocas ENORMES
Ana

Paula Raposo disse...

Uma bonita homenagem, a tua! Beijos.

Agulheta disse...

Elisa. Lindo a homenagem ao Eugénio,ele é um dos meus poetas preferidos...adorei o poema.
Beijinho Lisa

Savi disse...

Olá Elisa
è certamente um lindo poema, e uma descrição exacta da realidade de muitas e muitas casas abandonadas.
Beijinhos
Savi

Anónimo disse...

Sem dúvida que os nossos poetas merecem ser recordados.
Eugénio de Andrade, merece esta homenagem com todo o mérito.
Para um poeta, haverá melhor atitude do que relembrar o que escreveu??? É evidente que não.
Bem longe e tão perto de nós se sentirá acarinhado!
O poema é muito profundo e realista.

Uma casa é uma construção, mais ao menos sólida; mais ao menos construída com muito bom gosto ou não;mais ao menos um palácio ou um casebre doirado.

Eugénio de Andrade , de uma forma real, descreve o que é uma casa abandonada.
Nada se pode retirar no que escreve
Porém , sinto um alerta, uma inquietação.
Não será a nossa casa (onde nós habitamos) uma casa abandonada???
Ou seja:
Vivemos numa casa ou num LAR?
Será que o nosso Lar é um lugar de alegria, de comunhão de sentimentos ou é simplesmente uma casa onde nos albergamos?

É de admirar este poeta que escreveu sempre com muito sentido da realidade.

Este nos convida a sermos

«...novos moradores
Em cujos sorridentes
E discretos amores
Possa esquecer os que se foram indiferentes...»

Um poema de reflexão.

A foto é uma realidade dos dias de hoje.
É muito, muito triste ver uma casa abandonada.

"Não abandonemos a nossa com os nossos caprichos."

Parabéns pela escolha e pela foto.

Beijinhos.

artes_romao disse...

boa noite,td bem?
gostei imenso das novidades...
um poema muito giro...
neste dia a minha avó materna também fazia anos...
agradeço a plantinha tb a recebi há 2 dias...
fica bem,jinhos***

lis disse...

Oi Mlisa
Leio e gosto de Eugênio de Castro, são poemas que resistem ao tempo .
Sentimentais e ternos.
Boa lembrança
beijinhos

mfc disse...

Uma foto desoladoramente linda!
... muito bem conseguida!

Just Me...S disse...

Bonito mas não conheço este poeta ...

Beijoca doce

José Leite disse...

Há casas que são como almas penadas...

cmpts

Zé Al disse...

Tenho andado um pouco afastado dos blogs,pois como sabe o facebook tem preenchido grande tempo do meu tempo no PC,pois tenho andado procurando amigos e já consegui alguns,é um mundo!
Estes versos estão fantásticos e deu-me forças para tentar escrever mais alguns para acompanhar algumas telas que fiz e que tenho na ideia um dia fazer um livro,sempre fica para os decendentes não se esquecerem de mim! Um óptimo fim de semana
beijos Zé Al
PS:Porque será que não consigo entrar no blog da Carla?

Adelaide Mesquita disse...

Olá Elisa!
Aqui em Coimbra há uma escola com o nome do poeta.
Este poema retrata magistralmente uma casa abandonada e a tua foto faz-nos visualisá-la.
Beijinhos

Carmo disse...

Elisa, bonita homenagem a Eugénio de Andrade de quem eu sou admiradora. O poema é bem ilustrado por essa magnífica foto.

Beijinhos

Bom fim de semana

Carmo

Lilá(s) disse...

Uma bonita homenagem.
São tão tristes as casas abandonadas...
Bjs

Anónimo disse...

Amei o seu poema amiga.
Bem no sentido figurativo.
Gostei.
Parabéns.
Um beijo grande.

Carla disse...

Oi munha linda, sempre com uma homenagem apropriada a quem de direito, amei o poema e a foto esta incrivel. Esta tudo bem contigo??? Ainda agora vim do blog do nosso amigo Ze porque ele tem andado desaparecido e agora li o comentário que ele te deixou, dou meia volta e aquele blog dá-lhe um treco e trata mal os meus amigos..........mas isso passa-lhe eh eh eh eh que remédio, não se cure não..... Um beijão grande e um bom fim de semana

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