domingo, abril 25, 2010

25 de Abril


Portugal nunca teve um cariz revolucionário nas suas raízes, contudo o dia 25 de Abril de 1974 marcou uma viragem no rumo do país, encaminhando-o para um horizonte bem distinto do vivido antes deste dia.


Para além de todos os factos históricos, já documentados inúmeras vezes, por livros de história ou simples senso comum, o que importa realçar são as grandes conquistas saídas da revolução: liberdade (expressão e manifestação, reunião e associação), o poder local, a democracia…


Muito do que hoje se tem e pode fazer fica-se a dever à revolução. Contudo a forma como as coisas são feitas nem sempre é a melhor.


O 25 de Abril enunciou todo um projecto de renovação que não pretendia deixar para trás os valores fundamentais (exaltados na época do Estado Novo) que pautavam a sociedade ordeira e respeitadora idealizada por Salazar. Porém ao anunciar uma liberdade quase total, onde tudo se pode fazer, sem limites e barreiras, nem tudo correu como previsto.


O caminho para a Democracia, nem sempre seguido da melhor forma, é um exemplo de algo que hoje ainda é alvo de dúvidas e sugestões, o que se pode retirar dos tempos que se seguiram à revolução, com a força tomada por comunistas. Da mesma forma se fala dos outros partidos que não se assumem, não tomam partido de um rumo fixo para o nosso país, deixando que o grupo a que pertencem se revele uma força de bloqueio sem precedentes, que se guia apenas por interesses próprios. Assim, tornou-se difícil, ao longo dos anos, lutar por um objectivo comum que encaminhasse o país para o sucesso e para a glória de outros tempos. Da mesma forma, a nossa sociedade caminhou e caminha para um vácuo de valores, sobretudo nas camadas mais jovens, que a tornam superficial e fútil. A Família, a Pátria, Deus, onde estão? De facto, a tão reclamada e exigida liberdade é um conceito complicado de definir, e dá-la aos jovens, pela educação, nem sempre é a tarefa mais fácil. Contudo essa educação de hoje não é melhor que a de antigamente. O desrespeito aumenta de dia para dia nas escolas, os pais não são capazes de deter as vontades dos filhos, os malefícios do álcool, do tabaco, das próprias drogas atingem camadas cada vez mais jovens. Enfim, tudo isto serve de exemplo para mostrar que não se melhorou com o 25 de Abril, talvez porque nunca foi dada uma definição concreta do que se pretendia com a “liberdade” dada pela revolução.


Pois bem, hoje ainda espero por essa resposta e, como eu, muitos portugueses que, mesmo tendo lutado ao lado dos capitães de Abril, não se revêem no Portugal de hoje, não se identificam com o caminho levado a cabo após revolução.


Quando se aborda a figura de Salazar aquando do 25 de Abril, ganha-se a percepção daquele que retirou todas as liberdades num regime opressor e totalitarista. Ora, não se devem olhar a regimes para criticar as pessoas. Salazar vingou pela determinação com que defendeu os seus valores, fosse a exaltação da Pátria, a defesa da Família, a importância de uma crença em Deus, a valorização da economia enquanto forma de ordenar uma sociedade forte, concentrada no interesse comum, na vitória de todo um País na persecução dos seus horizontes e objectivos. Por isto, apesar de reconhecer que as medidas de hoje não podem ser iguais às do seu tempo (a sociedade adapta-se ao momento e ao lugar), saliento que os valores do obreiro da Pátria são intemporais, transversais às vontades e realizações de cada um. A disciplina e o rigor têm que persistir na sociedade pois apenas dessa forma se educa a sociedade para cumprir a sua função social de ajuda ao próximo, de estabelecimento de relações que revelam o que de mais único o ser humano detém – a sua natureza social de contacto com os outros, dando lugar à sua capacidade reflexiva que resolve problemas e obstáculos ao desenvolvimento e progresso.


Marcello Caetano não teve a sua oportunidade e, hoje, África sofre as consequências de uma descolonização mal conduzida, a renovação na continuidade não teve tempo de se estabelecer. A mudança era necessária, sem dúvida, mas não nas condições em que se realizou, no estereótipo negativo que a época do estado novo ganhou e que hoje se vai alterando face aos problemas da actualidade – para além de tudo o que já foi enunciado, o fosso económico e o desleixo cultural em que caímos: porque nos encontramos no chamado grupo intitulado PIGS (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha) que define aqueles que detêm uma situação económica catastrófica? Porque é que os governos que se sucedem não melhoram em nada esta situação e no panorama internacional perdemos progressivamente relevo de outrora? Porque é que o nosso património histórico seja na Baixa Pombalina ou noutras regiões mais interiores é deixado no desleixo, quase abandono?


Pois é, o 25 de Abril deve ser comemorado pelo dia que foi, por aquilo que idealizou, por aquilo por que se lutou. Mas comemorar o 25 de Abril de 2010 (comemorar a democracia, a liberdade, etc.) é inglório pois os heróis não tiveram seguidores que dessem acção às suas palavras e os mesmos cravos ainda não voltaram a ter vida desde esse dia. Os culpados somos nós, mas cabe a toda uma nova geração, na qual me insiro, lutar por um Portugal melhor e, quem sabe, elevar um novo cravo que simbolize, esse sim, um Portugal glorioso, rejuvenescido com as bases do respeito, da tradição, do rigor. Atingir o Portugal de um Quinto Império onde Deus quer, o homem sonha e a obra nasce.


Viva Portugal!


Guilherme Fardilha

Imagem:internet

15 comentários:

Mona Lisa disse...

Aleluia Guilherme!!!

Na minha opinião, o país não soube aproveitar a liberdade e democracia que conquistou, não sendo o actual regime mais que um "Lobo com pele de cordeiro".

Bjs da tua tia Lisa

mfc disse...

Vou apenas citar um pequeno excerto do texto e comentá-lo, mas antes só queria dizer que este texto só é possível porque existe o 25 de Abril com todos os defeitos que teve e tem não se comparam à melhor das virtudes do Estado Novo.
Vejamos então: "Salazar vingou pela determinação com que defendeu os seus valores (os valores de assassinar quem se lhe opunha), fosse a exaltação da Pátria (a humilhação do povo Português face ao mundo civilizado pela opressão de outros Povos), a defesa da Família (lembremos o Ballet Rose e o seu abafamento), a importância de uma crença em Deus ( que triste política que tem que invocar o sobrenatural !!! para convencer alguns), a valorização da economia enquanto forma de ordenar uma sociedade forte ( a obra económica foi o de nos colocar no último lugar da Europa de onde na verdade ainda não saímos)..."

A crítica que se pretende suave(mas que o não é) ao 25 de Abril, mais não é que a exaltação tímida de um regime indefensável que simplesmente caíu de podre e que já ninguém hoje ousa defender... com clareza!

Negar o progresso destes 35 anos, sobrepondo-lhe algumas cifras negras que existem, é deliberadamente confundir a árvore com a floresta... o que diga-se de passagem, não é bonito.

Hoje não se assassina ninguém, a pedofilia é denunciada e punida, estabeleceram-se relações diplomáticas em termos de igualdade com os povos oprimidos e apesar da má gestão económica o progresso tem sido evidente.

O respeito de que fala, era a mordaça que asfixiava um povo.

Viva o 25 de Abril

Tio Carlos disse...

Esta é a opinião de um jovem que comenta o 25 de Abril.

Que pena os fazedores de ilusões deixarem os jovens terem esta opinião de uma obra tão triste para um país que está na boca do mundo pelas piores razões.

Um abraço

Adelaide Mesquita disse...

Parabéns para o Guilherme, pelo texto que escreveu e que teve a coragem de escrever. Ele não está a elogiar Salazar, muito pelo contrário. Apenas foca os aspectos bons da sua maneira de ser. É preciso ver que também houve evolução de pensamento e atitudes mas nem sempre as melhores.
Acabaram certas coisas e houvem-se falar de outras mas por toda uma evolução que houve e abertura ao Mundo e não só por já não existir Salazarismo. O meu Pai também esteve preso pela PIDE e não é por esse motivo que eu deixo de comparar as coisas que se podiam ter aproveitado e se desperdiçaram e os métodos que se poderiam ter adaptado e se deitaram fora porque tinham um rótulo. Um processo de renovação como foi o nosso tem sempre dois lados. Interessava era ter sido feita a ponte entre eles, o que me parece que não aconteceu.
História é História e por muito que custe a certas pessoas ouvir falar do assunto, não há como negar os factos sem cortar-mos a cabeça. Por isso acho que nos cabe fazer um balanço e admitir sem sombra de dúvida que se cometeram erros e precepitações graves de que hoje ainda sofremos e vamos continuar a sofrer as consequências se os políticos não começarem a pensar de outra maneira e não acabarem com a corrupção desenfreada a que se assiste.
Parabéns para ti que tiveste a coragem de publicar.
Beijinhos

Anónimo disse...

VIVA PORTUGAL!!!

Apesar deste texto ter sido escrito por um jovem, sinto que é uma pessoa com os pés bem acentes na terra.

Não possuo, neste momento, factos concretos para contradizer o que está escrito, infelizmente.

Sim, recordo que a falta de liberdade de expressão era inegával , diria mesmo cruel.
Minha mãe teve algumas empregadas casadas. Os seus maridos que na altura de SALAZAR, contestavam o regime, foram presos e nunca mais ninguém os viu.As suas mulheres bem lutaram(como?) ,mas ficaram "viúvas".
Isto é horrendo!!!

Mas vejamos outro aspecto: os valores.
A LIBERDADE faz parte do nosso ser.
De que tem servido???
Apenas para contestar e no final fica tudo igual.
As manifestações fazem-se, sim senhor. O que se tem aproveitado????
A LIBERDADE é um valor incontestável.Mas como nos relacionamos com ela?
Perde-se este direito, ou é trocado o seu conceito?
Nas famílias há liberdade e respeito?
Nas escolas o que se passa com a disciplina? (não é isto falta de liberdade, pois só se pensa em si, e os outros?. )

Não condeno SALAZAR.
Não condeno o 25 de ABRIL.

O que condeno é a falta de verdade que todos sentimos na pele;
O que condeno é a falta de confiança nos políticos;
O que condeno é a "ausência de certezas";
O que condeno é a falta de determinação e convicção;
O que condeno é o empenhamento de corpo e alma do políticos, para que as pessoas se vejam mais felizes, com o seu emprego assegurado e o seu futuro mais colorido.
Para que haja menos fome e menos amargura.
O que condeno é tantas e tantas pessoas" nadem em milhões" e outros tenham de estar nas "filas do Banco Alimentar.

Meu DEUS o que condeno é a falta de Tua presença.
Tu és a VERDADE.
Tu és o CAMINHO.
Tu és a VIDA.

Os jovens sabem qual é a" verdade"
que prevalecerá na obtenção do seu emprego?


Os jovens, sabem qual é o melhor "caminho" a seguir?

Os jovens, sabem que a sua " vida" vai ser de paz e de felicidade? ou que ela vai ser de uma constante traição?( quando são convidados a deixar o seu emprego, sem qualquer explicação?


Concordo plenamente contigo, Guilherme, e peço-te que me deixes elevar um cravo para que o nosso lindo país se rejuvenesça de respeito, de tradição e de rigor.

VIVA PORTUGAL!

APO (Bem-Trapilho) disse...

e pior: o tal "Lobo" já nem se preocupa em vestir bem a pele de cordeiro. Deixa o rabo de fora e parece que ninguém se apercebe!
Hoje +e um dia muitissimo importante. mais logo, dê lá por onde der, tenho que arranjar tempo para escrever umas coisas lá no Bom Feeling. Não quero mesmo deixar passar esta data em vão.
bjinhos e muito obrigada pela visita!

lis disse...

Parabéns aos portugueses pelo 25 de abril .
Que a data nao seja disvirtuada e a liberdade apenas um detalhe .
abraços Elisa

Unknown disse...

Parabéns Guga!
Segue em frente com os teus ideais.

Tia Zé

Silenciosamente ouvindo... disse...

Subscrevo o seu texto.
Desculpe não vir aqui deixar
o meu comentário com a frequência
que gostaria, mas estou com problemas de saúde, menos tempo
disponível, vários seguidores,
cumpro com uns falho com outros,
mas gosto muito de todos.
Beijinho/Irene Alves

A Magia da Noite disse...

confesso-me desiludido com o estado actual e com as perspectivas de futuro.

Maria Luisa Adães disse...

Seu dizer, acerca da Liberdade e da
finalidade da revolução dos cravos
vermelhos, está muito bem analisada e correcta.

A liberdade tinha de acontecer num mundo em transformação.
Todos sabiam e viam que o dominio portugùês tinha de ser vencido no ultramar.
Os Ditadores apegam-se ao poder e
não o querem deixar - nunca! Todos!
O poder deslumbra o melhor e o
transforma no pior.

As transformações demoram muito tempo e a finalidade da Liberdade, foi mal intrepretada e se caíu no outro extremo.

Até agora, tudo ou quase, está parado, numa luta permanente pelo
poder.

Nada mais vou dizer, apenas que o texto está muito bem escrito e analisado.

Maria Luísa

Ana Zuzarte disse...

Olá Elisa
E Viva Portugal
E Viva a liberdade
E Viva o Guilherme por este fantástico texto que escreveu

Beijocas ENORMES
Ana

Ana Zuzarte disse...

Elisa
Acabei de ir ao Blog de feltros, e venho de babete numa mão e lenço de papel na outra.
Muito Obrigado minha Querida.
Beijocas ENORMES
Ana

artes_romao disse...

boa tarde,td bem?
gostei imenso desta descrição acerca do 25 de Abril...
é a realidade que vivemos e por haver tanta liberdade é que estamos nestas 'condições'....
fiquem bem,jinhos***

Nilson Barcelli disse...

O Guilherme, que presumo ser teu familiar, fez um excelente texto sobre o 25 de Abril.
No essencial, concordo com ele.
Querida amiga, bom fim de semana.
Beijos.

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