Conde de Monsaraz
(António de Macedo Papança)
(1852- 1913)
“ É oriundo de uma família de
latifundiários do Alentejo. O seu nome destaca-se de entre os poucos poetas
parnasianos que houve entre nós. Começou por receber, ainda em Coimbra,onde se
licenciou em Direito, a influência de João Penha e do parnaseanismo. Estreou-se
nas letras com o poemeto “Avante”, imbuído de retórica patriótica. De toda a
sua obra destaca-se nitidamente a colectânea de poemas intitulada “Musa Alentejana”,
em que evoca a mitologia rural, em termos patriarcais e de grande senhor das
terras.”
Vamos lembrá-lo com as composições
poéticas que se seguem.
I
As mondadeiras
Jovem, Alentejo
percorri,
planícies a perder de
vista.
Oh! Que odor da terra
eu senti
e que cânticos eu ouvi
das mondadeiras: tela
de artista!
Tal como as cigarras no
galho,
sempre a rir e a
cantarolar,
mas quais formigas no
trabalho
no rego ou até no
atalho:
há ervas daninhas a
arrancar.
Labor duro, mas forças
há.
Erguem-se p’ra cruzes
descansar:
pouco tempo e retoma
está
e a alegria regressará.
Há muito joio para
queimar.
Elas, p’ra calor
enfrentar,
usam roupas largas, mas
os peitos
desafiam as ondas do
mar,
pois baloiçam, mas sem quebrar.
Em breve há molhos de
trigo feitos.
O dia está quase a
findar:
da torre, ao longe,
ouvem-se as trindades.
E lá vêm elas a cantar.
Limpam suor e vão cear.
Amanhã regressam às
herdades.
II
O Cavador
Desde o romper da
Aurora até ao Sol-posto,
o cavador trabalha sem
cessar.
As marcas da labuta
estão no rosto.
Comida? Só regressa
p’ra cear.
Ano de fome: foi
madrasta o chão.
A mulher, tão precoce
envelhecida.
Que ceia! Caldo de
couves e feijão.
Filhos, muito longe, a
ganhar a vida.
De malga nas mãos, ao
lume, ele pensa
que será deles, se
alguma doença
do labor duro da terra
o impede.
Na lareira apagou-se o
lume e vão
deitar-se. Aos Santos
pedem a sua bênção.
A estes tristes Deus
também concede.
III
O Semeador
Já balançando vem
semeador
ao lançar o grão p’ra
terra fecunda,
onde germinará e,
quando abunda,
p’ros desventurados é
cura da dor.
Tua origem de escravo é
do senhor
da terra; foste servo
dela, imunda.
Ela, sem ti, estava
moribunda,
mas tu lhe deste todo o
teu amor.
De quantas guerras foi
cenário a terra!
Quanto sangue de lutas
ela encerra!
Déspotas já o mundo
dominaram,
mas tu, alheio sempre à
tirania,
só desejas p’ra todos
cada dia
tenham a paz que
outrora lhes roubaram.
Agostinho Alves Fardilha (o meu pai)
Coimbra
8 comentários:
Sempre lindos os poemas que nos mostras do teu pai! Tão belos momentos! beijos,tudo de bom,chica
Gosto muito quando partilhas a poesia do teu pai...obrigada!
Maria
Bom dia
EXCELENTE!
Boa semana...
Beijos
http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/
Que artista era o teu pai!(sabe-me sempre bem ler os poemas dele)
obrigada por partilhares connosco!
beijinho
Adorei a foto do garoto bebendo,rrs
Parabéns a teu pai pela escolha deste poeta e , mais ainda, pelos poemas oferecidos.
Abraço para vós.
Mais uma boa partilha do duo
que forma com o srº. seu pai.
Gostei bastante.
Bj.
Irene Alves
QUE ORGULHO DEVES TER DE PUBLICAR OS TRABALHOS DE TEU PAI, UM POETA DOS MELHORES.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Um retrato de um Portugal campestre.
Uma grande lição.
Beijinhos ao professor!
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